Educação inclusiva na Educação Infantil: as políticas públicas e sua ineficácia para induzir a criação de ambientes educacionais inclusivos
Palavras-chave:
Educação Infantil, Educação Inclusiva, Diferenças, Pessoa com deficiênciaResumo
Esta pesquisa consiste em um estudo de caso, realizado no âmbito do Mestrado em Educação, cujo objetivo foi analisar a articulação entre a política pública de inclusão e contexto institucional de uma criança com deficiência atendida na Educação Infantil, na rede municipal de Lages, Santa Catarina. Toma-se como base a compreensão de que a educação inclusiva funciona, no contexto contemporâneo, como estratégia de governamento ligada ao discurso político constituído em torno do lema “educação para todos”. A partir desse ponto de vista, abrem-se possibilidades de colocar sob suspeita os efeitos de verdade produzidos historicamente acerca da inclusão. A educação inclusiva emergiu substancialmente no cenário nacional na década de 1990, sendo um dos efeitos dos acordos internacionais em prol da “educação para todos”, que tiveram impactos na garantia de acesso à educação de crianças com deficiência. No âmbito escolar, mais especificamente na Educação Infantil, o tema da educação inclusiva ainda produz incertezas em boa parte dos profissionais da educação. Uma das verdades colocadas sob suspeita nesta pesquisa é a possibilidade de se efetivar o acesso e a permanência das pessoas com deficiência nas classes comuns do ensino regular da Educação Básica, nas escolas públicas, premissa do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, de 2007. Os dados foram obtidos por meio da revisão de literatura e da transcrição das narrativas de duas professoras envolvidas com o atendimento educacional de uma criança com deficiência e seu responsável legal. Como resultados, é possível constatar que tanto as professoras como a família sentem-se despreparados para lidar com a inclusão escolar. Trata-se de um desafio educacional, que necessita ser amplamente discutido, a fim de se garantir de fato, não só o acesso, mas a permanência de crianças com deficiência nas classes regulares da Educação Básica. A percepção dos sujeitos foi analisada em face aos efeitos discursivos do dispositivo pedagógico, levando a uma percepção negativa sobre as condições com que a política da educação inclusiva tem sido implementada no país. Compreende-se que as condições materiais são desfavoráveis para a efetivação de práticas pedagógicas fortemente ancoradas no princípio da educação inclusiva pois ainda estão pautadas no atendimento individual de cada criança, sob o ponto de vista da aprendizagem. Cabe, portanto, questionar se existe interesse político para se criar instituições inclusivas e até mesmo pensar quais seriam os limites desta inclusão numa sociedade extremamente excludente.
Downloads
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Educação infantil: saberes e práticas da inclusão: dificuldades de comunicação e sinalização: deficiência física. 4. ed. Brasília: MEC/SEE, 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/deficienciafisica.pdf Acesso em: 28 mar. 2024.
BRASIL. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Casa Civil, 1996.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade. Documento orientador. Brasília: MEC/SEESP, 2005. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/orientador1.pdf. Acesso em: 23 fev. 2024.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEE, 2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf. Acesso em: 28 mar. 2024.
BRASIL. Decreto n° 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Brasília: Casa Civil, 2009.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n° 4, de 2 de outubro de 2009. Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Brasília: CNE, 2009.
BRASIL. Lei n° 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília: Casa Civil, 2015.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria n° 343, de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus - COVID-19. Brasília: MEC, 2020.
BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Infância e maquinarias. Porto Alegre: UFRGS/PPGEDU, 2001. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.
BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Infância e poder: breves sugestões para uma agenda de pesquisa. In: COSTA, Marisa Vorraber; BUJES, Maria Isabel Edelweiss (org.). Caminhos investigativos III: riscos e possibilidades de pesquisar nas fronteiras. Rio de Janeiro: Lamparina, 2017. p. 202-223. E-book.
CORDEIRO, Alexander Magno; OLIVEIRA, Glória Maria de; RENTERÍA, Juan Miguel; GUIMARÃES, Carlos Alberto. Revisão sistemática: uma revisão narrativa. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 34, n. 6, p. 428-431, 2007.
EWALD, François. Foucault, a norma e o Direito. Lisboa: Vega, 1993.
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Escrita acadêmica: arte de assinar o que se lê. In: COSTA, Marisa Vorraber; BUJES, Maria Isabel Edelweiss (org.). Caminhos investigativos III: riscos e possibilidades de pesquisar nas fronteiras. Rio de Janeiro: Lamparina, 2017. p. 131-158. E-book.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 13. ed. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1998.
FOUCAULT, Michel. Segurança, território, população: curso dado no Collège de France (1977-1978). Edição estabelecida por Michel Senellart sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana; tradução Eduardo Brandão; revisão da tradução Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
FROHLICH, Raquel; LOPES, Maura Corcini. Serviços de apoio à inclusão escolar e a constituição de normalidades diferenciais. Revista Educação Especial, v. 31, n. 63, p. 995–1008, out./dez. 2018.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Ed. Objetiva, 2001.
KLEIN, Carin; DAMICO, José. O uso da etnografia pós-moderna para a investigação de políticas públicas de inclusão social. In: MEYER, Dagmar Estermann; PARAÍSO, Marlucy Alves Paraíso (org.). Metodologias de pesquisas pós-críticas em educação. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2012. p. 63-85.
LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, jan./abr. 2002.
LARROSA, Jorge. Notas sobre narrativa e identidade (a modo de presentación). In: ABRAHÃO, Maria Helena Menna Barreto (org.). A aventura (auto)biográfica: teoria e empiria. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. p. 11-22.
LARROSA, Jorge; RECHIA, Karen. P de professor. São Carlos: Pedro & João Editores, 2018.
LOPES, Maura Corcini; Ritornelo e circuito formativo pedagógico. In: LOPES, Maura Corcini; MORGENSTERN, Juliane Marchall (org). Inclusão e subjetivação: ferramentas teórico-metodológicas. Curitiba: Appris, 2019. p. 19-40.
LOPES, Maura Corcini; DAL’IGNA, Maria Cláudia. In/exclusão nas tramas da escola. Canoas, RS: Editora da Ulbra, 2007.
LOPES, Maura Corcini; FABRIS, Eli Henn. Aprendizagem & inclusão: implicações curriculares. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2010.
LUNARDI, Márcia Lise. Pedagogia da diversidade: normalizar o outro e pedagogizar o estranho. In: REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO, 27., 2004, Caxambu. Anais [...]. Rio de Janeiro: ANPEd, 2004. Disponível em: http://www.anped.org.br/sites/default/files/t157.pdf. Acesso em: 29 mar. 2024.
RIBEIRO, José L. Pais. Revisão de investigação e evidência científica. Psicologia, Saúde & Doenças, São Paulo, v. 15, n. 3, p. 671-682, 2014.
SANTOS, Mônica Pereira dos. Revisitando a inclusão sob a ótica da globalização: duas leituras várias consequências. In: SILVA, Luís Heron da. (org.). A escola cidadã no contexto da globalização. Petrópolis: Vozes, 1998.
VEIGA-NETO, A. Algumas raízes da Pedagogia moderna. In: ZORZO, Cacilda Maria; SILVA, Lauraci Dondê da; POLENZ, Tamara (org.). Pedagogia em conexão. Canoas: Editora da ULBRA, 2004. p. 65-83.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Revista Educare (Online)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.