Modernização conservadora brasileira como conciliação: ensaio de interpretação filosófica – apontamentos programáticos
DOI:
https://doi.org/10.18012/arf.2016.43834Palavras-chave:
Modernização conservadora Brasileira, Modernização Europeia, Conciliação, Contradição, Despolitização, AntipolíticaResumo
Propomos, neste artigo, uma definição do processo de modernização conservadora brasileira enquanto conciliação apolítica-despolitizada entre sociedade colonial e República, em que sujeitos, práticas, valores e relações propriamente arcaicos – como o senhor de escravos e grande fazendeiro rural, a fazenda de café monocultora, o escravismo e uma cultura fortemente essencialista e naturalizada – são reestilizados em termos de modernização brasileira, mantendo, por conseguinte, agora dentro da modernidade-modernização, uma perspectiva autoritária nas práticas políticas, racista no que tange às relações interpessoais, imobilista-inerte no que se refere à atuação da sociedade civil e fortemente tecnocrática em termos de constituição das instituições políticas. A conciliação, uma vez que amalgama em um todo indiviso, indiferenciado e homogêneo a pluralidade dos sujeitos sociopolíticos, suas diferenciações e suas contraposições, permite exatamente (a) o autoritarismo político e o institucionalismo forte, (b) o imobilismo e a inércia das relações sociais, (c) a naturalização e a ossificação da cultura tradicional e (d) a recusa e a deslegitimação da política por meio da afirmação de que a sociedade é uma grande família indivisa, unitária, constituída por laços hierárquicos e naturalizados, sem divisão e conflito internos, bastando, aqui, para a integração social, a ordem institucional pura, correlacionada ao imobilismo político na sociedade civil. Desse modo, e isso é o específico de nossa modernização conservadora, há uma integração de sujeitos, valores, práticas e princípios antagônicos – sociedade colonial e modernidade –, mas sem politização das diferenciações e das contradições dali surgidas, que acabam ficando latentes, invisibilizando-se e sendo silenciadas e desarmadas pela correlação de autoritarismo institucional, militarismo político e arcaísmo cultural. Como consequência, a conciliação institui a antipolítica como o núcleo civilizacional, político e normativo tanto das instituições e dos sujeitos institucionalizados quanto da sociedade civil e dos seus sujeitos sociopolíticos informais, de modo a constituir-se como um imobilismo em movimento, com pouca reflexividade, crítica e transformação internas, consistindo basicamente em uma modernização econômica e periferizando e até deslegitimando a modernização cultural.Downloads
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