O conceito de liberdade em Aristóteles, Hegel e Sartre: Implicações sobre ética, política e ontologia

Authors

DOI:

https://doi.org/10.18012/arf.2016.44640

Keywords:

necessidade, determinismo, polis, Geist, ser-para-si

Abstract

A liberdade constitui tema que sempre transpassou o ser no decorrer da história, tese que continua influenciando a construção da identidade do sujeito e a relação do homem com a sociedade pós-moderna. O discurso de liberdade e a necessidade de conceituá-la suscitaram o juízo de vários pensadores ao longo da historia ocidental. Nesse sentido, a delimitação do tema desse artigo visa à discussão do conceito de liberdade circunscrito nos pensamentos aristotélico, hegeliano e sartreano. O conceito polissêmico do termo liberdade exerce função ímpar enquanto instrumento de construção da identidade ética, política e ontológica do homem antigo, medieval, moderno e pós-moderno. Aristóteles, Hegel e Sartre foram grandes pensadores que analisaram a variável liberdade para além de sua acepção etimológica, tanto no plano teórico quanto pragmático, estendendo seu conceito para os domínios da ética, política e ontologia, campos que fortemente influenciam a definição de homem na sua historicidade. Embora haja uma grande amplitude temporal (antiguidade, modernidade e pós-modernidade) e espacial (perspectiva grega, alemã e francesa), determinadas obras de Aristóteles e de Hegel e a principal obra de Sartre possibilita uma analogia da evolução, não linear, do conceito de liberdade no espaço-tempo, permitindo definir quais dessas dimensões (política, ontologia e ética) alcançaram primazia e se destacaram nos grandes períodos históricos e considerando as grandes matrizes geográficas que influenciaram a filosofia ocidental. Assim, o objetivo do presente artigo consiste em analisar a problemática dos limites da concepção de liberdade, verificando algumas implicações nos campos da ética, política e ontologia, a partir a perspectiva aristotélica, hegeliana e sartreana. Em Aristóteles, o conceito de liberdade e o seu locus se encontram na interdependência entre a ética e a política, saberes indissociáveis no pensamento antigo. É no exercício da razão, pelo hábito, buscando a ética teleológica, que o homem, um ser racional e político por natureza, encontra a maior virtude, o supremo bem, que a política pode proporciona: a felicidade, residência fixa da liberdade. Para Hegel, a liberdade está na política, no Estado, sociedade política consubstanciada como a síntese da dialética, visto que o Estado se configura como a melhor manifestação do Espírito absoluto, entidade essencialmente ontológica. A própria concepção de ética, no pensamento hegeliano, só encontra realização plena no Estado, materialização, por excelência, do Espírito (Geist) e consciência da razão do seu em si. Ao defender a máxima heideggeriana da precedência da existência sobre a essência, descartando uma essência em nome de uma condição humana, Sartre aponta para uma liberdade que independe da política ou de qualquer determinismo externo. Nesse consenso, a liberdade é uma questão de escolha do ser, questão ética, mas que depende da ontológica, ou seja, da tomada de consciência de si pelo homem e da assunção de sua condição humana.

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biography

Márcio Luiz Silva, IFSULDEMINAS

Licenciado em Geografia (UNIMONTES), bacharel em Geografia (UFMG), especialista em Solos e Meio Ambiente (UFLA), mestre em Engenharia Florestal (UFVJM), doutor em Geologia (UNICAMP), bacharel em Filosofia (UNISUL), especialista em Filosofia do Direito (PUC) e bacharelando em Direito (FDSM). Atualmente é professor efetivo, atuando como docente do magistério superior do IFSULDEMINAS.

References

ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

AGOSTINHO, S. O livre-arbítrio. 3. ed. Trad. Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 1995.

AMBRÓSIO, J. M. C.; SANTOS, M. C. O. Estado e liberdade em Hegel. In: SALGADO, J. C.; HORTA, J. L. (Coord.). Hegel, liberdade e Estado. 1. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2010, p. 229-245.

ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. L. P. Filosofando: Introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003.

ARENDT, H. O que é política? Trad. Reinaldo Guarany. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2001.

ARISTÓTELES. Política. Trad. Torrieri Guimarães. São Paulo: Martin Claret, 2002.

BENTHAM, J. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

BOÉCIO. La consolación de la Filosofia. Traducción del latín por Pablo Masa. Buenos Aires: Aguilar, 1955.

BORGES, M. L.; DALL’AGNOL, D.; DUTRA, D. V. Ética. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

BUENO, I. J. Liberdade e ética em Jean-Paul Sartre. 2007. 117 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

CHAUÍ, M. Espinosa, uma filosofia da liberdade. São Paulo: Moderna, 1995. (Coleção Logos).

CONSTANT, B. Da liberdade dos antigos comparada à dos modernos. Revista Filosofia Política, n. 2, 1985.

CUNHA, M. H. L. O conceito de liberdade e suas interfaces. Ensaios Filosóficos, v. 3, p. 93-104, 2011.

DESCARTES, R. Descartes. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Coleção os Pensadores).

DIMOULIS, D. Manual de introdução ao estudo do direito. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.

GOBRI, I. Vocabulário grego da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.

HABERMAS, J. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. 4. ed. Trad. Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.

HEGEL, G. W. F. A Razão na História: Uma introdução geral à Filosofia da História. Trad. Beatriz Sidou. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2001.

HEGEL, G. W. F. Introdução à história da filosofia. Trad. Antônio Pinto de Carvalho. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

HEGEL, G. W. F. Princípios da filosofia do direito. Trad. Orlando Vitorino. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

INWOOD, M. Dicionário Hegel. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

JAIME, B. P.; AMADEO, J. O conceito de liberdade nas teorias políticas de Kant, Hegel e Marx. In: BORON, A. (Org.). Filosofia política moderna. De Hobbes a Marx. São Paulo: USP, 2006, p. 405-424.

JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

JASPERS, K. Introdução ao pensamento filosófico. 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1965.

LACOSTE, J. Filosofia da arte. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.

LARA, T. A. A filosofia nas suas origens gregas. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1989.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

MODIM, B. O homem: quem é ele? Elementos de antropologia filosófica. 6. ed. São Paulo: Paulinas, 2005.

MORA, J. F. Dicionário de filosofia. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

PIRES, F. P. Liberdade e religião no existencialismo de Jean-Paul Sartre. Sacrilegens, v. 2, n. 1, p. 2-21, 2005.

PLATÃO. A República. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2002.

REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia 1: filosofia pagã antiga. Trad. Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003.

REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia 5: do romantismo ao empiriocriticismo. Trad. Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2005.

REALE, G. História da Filosofia Antiga. Trad. Henrique Cláudio de Lima Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994.

RODRIGUES, O. M.; GONDIM, E. Descartes e Sartre: a questão da liberdade. Ensaios Filosóficos, v. VI, p. 113-128, 2012.

SALGADO, J. C. A Idéia de Justiça em Hegel. São Paulo: Loyola, 1996.

SARTRE, J. P. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. 24. ed. Trad. Paulo Perdigão. Petrópolis: Vozes, 2015.

SCHNEIDER, D. R. Liberdade e dinâmica psicológica em Sartre. Natureza Humana, v. 8. n. 2, p. 283-314, 2006.

SILVA, A. M. V. B. A concepção de liberdade em Sartre. Filogenese, v. 6, n. 1, p. 93-107, 2013.

SILVA, P. C. G. O conceito de liberdade em O ser e o nada de Jean-Paul Sartre. 2010. 110 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.

VALLS, A. L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2005.

WEBER, T. Direito, justiça e liberdade em Hegel. Textos & Contextos, v. 13, n. 1, p. 20-30, 2014.

Published

2019-08-22

How to Cite

Silva, M. L. (2019). O conceito de liberdade em Aristóteles, Hegel e Sartre: Implicações sobre ética, política e ontologia. Aufklärung, 6(2), p.141–160. https://doi.org/10.18012/arf.2016.44640