JOÃO ANTÔNIO: O JOGO DA VOZ NARRATIVA COMO TRINCHEIRA CONTRA A DITADURA
DOI :
https://doi.org/10.22478/ufpb.1516-1536.2023v25n2.66269Mots-clés :
João Antônio, autoritarismo, colonialidade, modo de narrar, malandragemRésumé
Neste artigo, pretendemos mostrar que a crítica ao autoritarismo na obra do jornalista e escritor João Antônio se fez, principalmente, pela voz do herói malandro, noturno e jogador, parceiro do ócio e desprezado pela sociedade, concedida pelo olhar atento e complacente de um narrador que viveu a malandragem, principalmente entre os anos 60 e 90 – décadas que incluem o período de Ditadura Militar no Brasil (1964-1985) –, e pôde contá-la ao leitor. Experimentando a vida noturna, João Antônio conseguiu levar para muitos dos seus textos a originalidade de falar do mundo marginal de forma lírica, mas também reflexiva, conduzindo o leitor não só à realidade às avessas como também ao jogo do seu singular modo de contar, que é a magia de sua narrativa. São jogadores de sinuca, meninos de rua, pedintes, prostitutas e demais personagens à margem que assumem a fala na obra do autor e desfilam uma linguagem própria e singular. A voz narrativa, assim, parece formar uma trincheira de enfrentamento ao autoritarismo, não porque representa presos políticos ou ativistas, mas porque suas personagens subalternas teimam, sobrevivem às adversidades de um regime autoritário que invisibiliza os que vivem à margem. Para alcançar esse intento, escolhemos o conto “Cais” (1975). Sobre o autoritarismo, lançaremos mão dos estudos de Aníbal Quijano, Nelson Maldonado-Torres, Walter Mignolo e Luciana Ballestrin, partindo do conceito de Colonialidade, consequência do colonialismo autoritário exercido não só no Brasil, mas em toda a América Latina.
Téléchargements
Références
AGUIAR, Flávio. Evocação de João Antônio ou do purgatório ao inferno. In: Remate de males. N.19, Campinas, IEL/UNICAMP, 1999.
ANTÔNIO, João. Abraçado ao meu rancor. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
ANTÔNIO, João. Literatura que faz questão de ser suja”. Correio do Povo, Porto Alegre, Caderno de Sábado, 9 set. 1977.
ANTÔNIO, João. Malagueta, Perus e Bacanaço. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.
ANTÔNIO, João. Malhação de Judas Carioca. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1975.
ANTÔNIO, João. “1950”. In: Ex 13- Jornal de Texto, Foto, Quadrinho e Imprensa. p.29-30, agosto/1975. Disponível em: jornal_EX_n13_agosto_1975.pdf. Acesso em: 25 mar. 2022.
CASTRO-GOMÉZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón. Prólogo: giro decolonial, teoria crítica y pensamento heterárquico. In: CASTRO-GOMÉZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón (comp.). El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pont, 2007. p. 9-23. Disponível em: http://www.ceapedi.com.ar/imagenes/biblioteca/libreria/147.pdf. Acesso em: 25 mar. 2022.
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. 13 ed. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1982.
COSTA, Cristiane. Pena de aluguel – escritores jornalistas no Brasil 1994-2004. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR. Empreendedorismo no Brasil. Relatório executivo – 2017. Brasília, DF: Sebrae, 2018.
LAURITO, Ilka Brunhilde. João Antônio: o inédito. Remate de males. n.19, Campinas, IEL/UNICAMP, 1999.
MAIA, Gretha Leite. Alumbrar-se: realismo mágico e resistência às ditaduras na américa latina. In: ANAMORPHOSIS – Revista Internacional de Direito e Literatura. V. 2, n. 2, 2016, p. 371-388. Disponível em: file:///C:/Users/claud/Downloads/Dialnet-Alumbrarse-5812919.pdf. Acesso em: 08 mai. 2023. DOI: https://doi.org/10.21119/anamps.22.371-388
MARCUSCHI, Luiz Antônio. In: DIONÍSIO, Angela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
PAIXÃO. Fernando. João Antônio: Cartas de desabafo. Disponível em: file:///C:/Users/claud/Desktop/FERANDO%20PAIX%C3%83O.pdf. Acesso: 12 fev. 2023.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder y clasificación social. In: CASTRO-GOMÉZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón. El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, 2007, p. 93-126. Disponível em: http://www.ceapedi.com.ar/imagenes/biblioteca/libreria/147.pdf. Acesso em: 25 out. 2022.
SILVA, Aguinaldo. O escritor João Antônio e sua gente mal comportada. Jornal de Letras, n. 455. Dir. Elysio Conde, Rio de Janeiro, 1990.
SILVA, Claudia Maria Cantarella. O narrador em contos de João Antônio: Diálogo, experiência e discurso poético. 196 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) – Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2003.
SILVA, Júlio Cesar Bastoni da. Literatura e experiência social no Brasil. São Paulo: EdUFSCar, 2019.
SILVA, Mylton Severiano da. Paixão de João Antônio. São Paulo, Casa Amarela, 2005.
SILVA, Telma Maciel. Posta-restante: um estudo sobre a correspondência do escritor. vol. I, 2009, João Antônio. Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (CEDAP-UNESP). Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp111705.pdf. Acesso em: 10 nov. 2022.
SUSSEKIND, Flora. Literatura e vida literária: polêmicas, diários e retratos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
VICENZIA, Ida. João Antônio: Ô Copacabana (entrevista de João Antônio a Ida Vicenzia). Caderno de Sábado, 13/01/79, Fundo João Antônio, Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (CEDAP-UNESP), Série Documentos João Antônio. Indexação dos textos originais. Documento 105, Pasta XI.
Téléchargements
Publiée
Numéro
Rubrique
Licence
(c) Tous droits réservés Claudia Maria Cantarella Silva, Guacira Marcondes Machado Leite 2023
Ce travail est disponible sous la licence Creative Commons Attribution 4.0 International .