ONDE ESTÃO AS CHAVES DE CASA?
FISSURAS E (DES)ENCONTROS DE QUEM REGRESSA
DOI :
https://doi.org/10.22478/ufpb.1516-1536.2024v26n1.69158Mots-clés :
Romance português, Projeto colonial português, António Lobo Antunes, Isabela Figueiredo, DjDjaimilia Pereira de AlmeidaRésumé
Na medida em que a Revolução dos Cravos demarcou transformações políticas e processos históricos desencadeados pelas lutas de libertação e de independência das ex-colônias, outros modos de narrar a experiência limite daqueles que retornaram, tensionando o projeto colonial português, vieram a público desde a década de 1970 como contranarrativas do discurso oficial. Elegemos analisar três romances: Os cus de Judas, de António Lobo Antunes, que suscita o questionamento de Por que haver guerra?; Cadernos de memórias coloniais, de Isabela Figueiredo, que aprofunda a questão ao apontar para a ruína do império, dessa fratura que se faz pessoal e coletiva, entre memórias, traumas e imagens (fotográficas) partilhadas; A visão das plantas (2021), de Djaimilia Pereira de Almeida, que, mais recentemente, veio para estremecer definitivamente qualquer ideia de que o projeto colonial teria sido “suavezinho” – para retomar Figueiredo. Capitão Celestino habita a casa familiar abandonada para dedicar-se ao cuidado das plantas. No findar dos dias, a ruína de seu corpo, sua dedicação àquele espaço de cultivo, vivendo na antiga casa, aproxima-se, de alguma forma, ao apartamento do narrador-protagonista do romance de Lobo Antunes e à casa da avó onde a narradora de Caderno de memórias coloniais foi viver após partir de Angola. Este trabalho tem o propósito de elaborar algumas reflexões acerca dessas personagens que retornam a Portugal e dos espaços que (não) passam a ocupar, seja no isolamento de um apartamento, em uma casa com a avó e suas galinhas ou na casa por tanto tempo vazia, última morada do velho capitão.
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