A FILOSOFIA DO PROGRESSO E O DEVIR DA HISTÓRIA:

ANTECEDENTES MÍTICOS EM O NARRADOR, DE WALTER BENJAMIN

Auteurs

  • João Batista Pereira

DOI :

https://doi.org/10.22478/ufpb.1516-1536.2024v26n1.69610

Mots-clés :

Walter Benjamin, Lebensphilosophie, mito, O narrador

Résumé

Este artigo visa a refletir sobre a influência do mito na elaboração do ensaio “O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”, de Walter Benjamin, no qual o declínio dos relatos orais é atribuído ao advento da modernidade. Conjecturamos que essa afirmação tem antecedentes míticos, relacionados a dois pressupostos: aos princípios materialistas, conforme foi indicado por Michael Löwy (2020), e à Lebensphilosophie, condicionada ao que foi preconizado por Ludwig Klages (1929). Em grande medida, essas duas perspectivas foram motivadas pela idealização do passado de sociedades pré-industriais, recurso que se revelou como um caminho para Benjamin questionar a filosofia do progresso, que instava à dissolução da vida comunitária e à decadência das relações sociais. Sugerimos que a reverência ao passado foi ao encontro do mito, notadamente, nos períodos em que Benjamin esteve autoexilado em Ibiza, nos anos 1930, como indicado em pesquisas realizadas por Vicente Valero (2017). Em nossas conclusões pudemos identificar que, na insólita ilha espanhola, as casas primordiais, os rudimentares meios de produção e os modelos de vida dos seus habitantes endossaram uma utopia profana na leitura benjaminiana, que cultivou a expectativa de irromper um devir que interviesse na história, afiançado na esperança da ação humana transformar a realidade.

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Biographie de l'auteur

João Batista Pereira

Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária na UFPE

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Publiée

2024-12-30

Numéro

Rubrique

MUSEU DE TUDO 3: TEMA LIVRE