Maura Lopes Cançado: considerações em torno do início da literatura feminina autobiográfica no Brasil
Palavras-chave:
Literatura feminina, Escrita de si, Maura L. Cançado, Literatura autobiográfica, LoucuraResumo
A proposta do texto é problematizar a literatura feminina no Brasil, em especial aquela de perspectiva autobiográfica. Esse ‘estilo’ de escrita em Maura L. Cançado nos mostra que neste gênero a literatura se mistura com o próprio ato de escrever, um tipo de murmúrio estranho que não se restringe a uma mera consciência crítica. E é pela escrita de Hospício é deus – diário I (1965) e de O sofredor do ver (1968) que a escritora faz uma consagração das palavras e expressa, a partir daquilo que a transvasa, sua inquietude em relação ao mundo, às pessoas, às relações. Em Maura, a “palavra literária é um ‘arrombamento’”, escapando-se das limitações da mera linguagem formal. Nesse sentido, Maura escapa a uma busca pela verdade ou estabelecimento de uma metanarrativa e se insurge no direito de falar, de instituir um território, um possível qualquer. É a partir desse fio condutor que pensaremos a obra de Maura Lopes Cançado, enfatizando a relação entre escrita ficcional e autobiográfica, indicando de que modo autora e personagem se imbricam e expressam sentimentos em relação a uma determinada ordem constituída e estabelecida.
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