Chamada para dossiê 2025.1: INQUEERIR A TRADUÇÃO: Sexualidades, línguas e textos

2024-09-22

INQUEERIR A TRADUÇÃO:
Sexualidades, línguas e textos

Dennys Silva-Reis (UFAC)
Jânderson Albino Coswosk (INES)

Embora se constitua enquanto um campo pouco explorado na seara dos Estudos
da Tradução, a tradução queer torna-se um instigante cenário de pesquisa para o
entendimento dos processos em que culturas dissidentes, modos de subjetivação e
LGBTextos circulam através da tradução, da maneira em que são recebidos por um
público leitor diverso e se inserem nas relações de poder que perpassam os olhos e mãos
de tradutoras/es, editoras/es e de demais envolvidas/os, para que tais textos e suas
nuances atravessem a cultura de chegada (SILVA-REIS, 2024). Investigações que se
desdobram sobre as intersecções entre tradução e o existir queer agregam roupagens e
contornos potentes aos estudos de gênero e sexualidades, de modo a evidenciar outras
formas de vida, outros corpos e superfícies não pactuados no binarismo cartesiano e
logocêntrico da ocidentalidade.
Inspirados na ginga de um vogue ou de um shade que escancare as portas ainda
latentes do armário vitoriano, bem como as marcas da LGBTfobia tradutória,
questionamos: como o existir queer tem sido traduzido a partir de um espectro
cosmopolita, cuja amplitude alcança textos médicos, legais, históricos, além daqueles
impressos em suportes literários, dramatúrgicos, fílmicos, fotográficos, musicais e até
mesmo plásticos?
A partir desta pergunta, a presente chamada acolhe artigos, resenhas, entrevistas
e traduções que se ocupam de práticas tradutórias de LGBTextos sobre/de pessoas
queer, de múltiplos espaços geográficos e sistemas linguístico-semióticos; que partam
desde o Velho Mundo às Américas “virgens” e feminizadas enquanto pornotrópicos, dos
travestismos de classe e fetiches sexuais compilados por tradutoras/es e intérpretes autorizadas/os do Império (MCCLINTOCK, 2010); que tragam à tona as complexas e múltiplas “Áfricas Queer” por conhecer e traduzir (RÉA; PARADIS, AMANCIO, 2018); que aderem às forças disruptivas e acuendagens dos ball rooms de Nova Iorque a Lagos, de Tóquio a São Paulo e Salvador, em movimento incessante de inscrição do
corpo, em performance e tradução; que expõem a maleabilidade do arquivo que narra
outras queertopias em torno da tradução e recepção das histórias das populações
LGBT+, a partir de uma práxis decolonial, mestiza, de uma queer of color critique
(FERGUSON, 2003), dos (trans)feminismos, das práticas e saberes afro-continentais-
diaspóricos e indígenas-two-spirit. Desejamos fomentar um debate em que se construa
uma cartografia da tradução queer que ultrapasse as bordas latino-americanas e a lógica
perversa das tecnologias de gênero, de regimes sexo-políticos e outros CIStemas de
opressão calcados na heteronormatividade.

Aceitam-se contribuições em português, francês, espanhol e inglês.
Prazo para envio do texto: 01 de março de 2025
Contatos para dúvidas: reisdennys@gmail.com / jandersoncoswosk@gmail.com

Referências
FERGUSON, Roderick A. Aberrations in Black: Toward a Queer of Color Critique.
Minneapolis: University of Minnesota Press, 2003.
MCCLINTOCK, Anne. Couro imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial.
Trad. Plínio Dentzien. Campinas: Editora da Unicamp, 2010.
REA, Caterina; PARADIS, Clarisse Goulart; AMANCIO, Izzie Madalena Santos
(orgs.). Traduzindo a África Queer. Salvador: Editora Devires, 2018.
SILVA-REIS, Dennys. Preliminares: LGBTextos em Tráfegos e Traduções Queer. In:
SILVA-REIS, Dennys; FLORES, Vinicius Martins (orgs). Estudos da Tradução e
Comunidade LGBT: Sobre vozes entendidas e transformistas textuais. Salvador: Editora
Devires, 2024, p. 17-34.