A inglesa e o duque: o ponto de vista desmontando mitologias
Palavras-chave:
Cinema, Ponto de vista, Mitologia, Tempo de tela, Caracterização da personagemResumo
Utilizando a categoria narrativa do ponto de vista, Éric Rohmer desmonta a mitologia da Revolução Francesa, no filme A inglesa e o duque (L’anglaise et le duc, 2001), ampliando e aprofundando a concepção de ser humano em uma narrativa. Uma mitologia, de acordo com Roland Barthes, é uma representação coletiva que transforma a realidade histórica em realidade natural, empobrecendo-a. No caso da Revolução Francesa, a mitologia tem ressaltado a dualidade bem/mal, sem dar conta da complexidade do ser humano e dos processos sociais. Tal redução, que Barthes considera típica da sociedade burguesa, ainda é amplamente verificada nos dias de hoje, dentro e fora das narrativas. O ponto de vista, por meio do tempo de tela e da construção do personagem, é o recurso por meio do qual Rohmer rompe com a mitologia vigente. Para analisá-lo, partimos das reflexões de Seymour Chatman, Antonio Candido e Boris Uspensky, entre outros teóricos. Para melhor compreender o foco narrativo, é necessário transcender a visão predominante de que ele se limita à realização de um relato na primeira ou na terceira pessoa. A perspectiva de um relato está intimamente ligada à cosmovisão do autor e merece ser estudada como proposta ideológica, em todos os tipos de narrativa.
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Referências
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