(Des)encontros com o tempo: semioses da fantasia literária

Autores

  • Hermano de França Rodrigues Universidade Federal da Paraíba

Palavras-chave:

Psicanálise, Pulsões, Cecília Meireles

Resumo

Que é o tempo? Desde as primícias da existência humana, as artimanhas e vicissitudes do tempo intrigam e inquietam povos, civilizações e indivíduos. Não há heroínas que consigam aplacar sua fúria, nem cavaleiros capazes de domá-lo. Elemento fundante da história, subverte os mitos, carrega as memórias e desnuda as experiências que marcam, positiva ou negativamente, a trajetória de seus adoradores, inquiridores e vítimas. Cada nova era, em cada novo espaço, erigiu mecanismos específicos para explicar os enigmas que envolvem o tempo. O medievo, embevecido pelos odores do maniqueísmo judaico-cristão, atribuiu-lhe um caráter linear – símbolo da trajetória de Cristo –, que preconizava uma origem (a vida) e um fim (a morte). Nessa concepção, a glória terrena era considerada efêmera, o fausto do mundo era aparência e a beleza dissolvia-se, rapidamente, ante a culpa e os defeitos. A morte é, então, ofertada como recomeço, um instrumento capaz de expiar o erro dos justos, os quais, de certa forma, mantinham-se fiéis aos preceitos da Igreja. Aos pecadores, a finitude representava infortúnio e castigo, cujo desígnio subsumia, na inevitabilidade do dogmatismo cristão, um translado para o Inferno. Com Freud, a fisiologia do tempo adquiriu novo estatuto, passando a explicar as forças que estimulam e contornam as ações do indivíduo: a pulsão de vida e a pulsão de morte. A primeira compreende os movimentos de junção que estabelecemos com o mundo, com as outras pessoas e com nós mesmos. A última liga-se à repetição, à disjunção e à agressividade, suscetíveis, outrossim, de atingir tanto o próprio eu quanto o outro. Esse caráter hostil e destrutivo pode envolver, a depender do entorno psicossemiótico do sujeito, percursos passionais de dor, sofrimento e frustração, vividos como incidentes, fatalidades ou fortuna. Eis o corolário poético, presente no poema Motivo, de Cecília Meireles, o qual pretendemos examinar a partir de constructos teóricos da semiótica psicanalítica.

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Biografia do Autor

Hermano de França Rodrigues, Universidade Federal da Paraíba

Possui graduação em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (2004), Mestrado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (2006) e Doutorado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (2010). Atualmente, Professor Adjunto de Literaturas de Língua Portuguesa do DLCV/UFPB. Tem experiência na área de Lingüística, Linguagens e Cultura, com ênfase em Semiótica, Sociossemiótica e Semiótica das Culturas. Desenvolve estudos sobre Literatura Popular, Subjetividade e Intersubjetividade, Semiótica e Psicanálise.

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Publicado

18.12.2013

Edição

Seção

Artigos do Dossiê