Babel não revisitada

Autores

  • Paulo OLIVEIRA UNICAMP

Palavras-chave:

teoria da tradução, filosofia da linguagem, antropologia histórica

Resumo

O mito de Babel é uma referência recorrente nas reflexões teóricas contemporâneas sobre a tradução, como atestam as contribuições seminais de autores como Georges Steiner, Walter Benjamin, Jacques Derrida e Umberto Eco, além de um sem número de outros comentadores. Não deixa de ser curiosa a presença marcante de uma narrativa religiosa num universo de discurso inserido num contexto marcado por um outro tipo de narrativa básica, de uma ciência que tem clareza sobre a existência de diferentes paradigmas explicativos na fundamentação de seu próprio fazer. Alternativamente, não revisitar Babel significa procurar trazer à reflexão tradutória outros mitos de origem, outras narrativas, mais condizentes com os paradigmas que aceitamos como válidos nas nossas práticas de pesquisa, na visão de linguagem que as fundamenta etc. Discuto aqui essa questão sob a ótica das concepções de linguagem que mobilizamos em nossas teorias da tradução, retomando a seguir alguns autores que procuram explicar a diversidade das línguas com base na própria evolução da espécie e da linguagem humana, como Michael Tomasello (2008) e Mark Pagel (2012), e procuro daí retirar implicações para a tradução. Trata-se basicamente de mais um gesto visando a dissolução de falsos paradoxos, tais como o da afirmação de uma intraduzibilidade teórica secundada pela tradução real do mesmo caso concreto – como parte de projeto que venho desenvolvendo na interface da teoria da tradução com a filosofia da linguagem, orientando-me sobretudo pelo Wittgenstein tardio e a tradição hermenêutica.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AUER, Peter. From codeswitching via language mixing to fused lects: Toward a dynamic typology of bilingual speech. The International Journal of Bilingualism, v.3 n.4, December 1999, p. 309-332.

BARTHES, Roland. Mitologias. São Paulo: Difel, 1985. (6ª ed. Original: Mythologies. Paris: Seuil, 1957).

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Porto Alegre & São Paulo: L&PM, 2014. (Publicação original, em alemão: Das Kunstwerk im Zeitalter seiner technischen Reproduzierbarkeit, 1936)

BRUSOTTI, Marco. Niemand in Europa hat heute nur eine Sprache. In M. Kroß; E. Rahmharter: Wittgenstein übersetzen. Berlin: Parerga, 2012, p. 215-237.

BRUSOTTI, Marco. Wittgensteins Nietzsche. Mit vergleichenden Betrachtungen zur Nietzsche-Rezeption im Wiener Kreis. NIETZSCHE-STUDIEN. Internationales Jahrbuch für die Nietzsche-Forschung. Beiträge zur Rezeptionsforschung. Abhandlungen. DeGruiter, 2014, p. 335-362.

BUSCH, Brigitta. Das sprachliche Repertoire oder Niemand ist einsprachig. Klagenfurt: Drava, 2012.

HÖNIG, Hans. Konstruktives Übersetzen. Tübingen: Stauffenburg, 1995.

HOFSTADTER, Douglas; SANDER, Emmanuel. Surfaces and Essences: Analogy as the Fuel and Fire of Thinking. Basic Books, 2013.

KOPETZKI, Anette. Beim Wort nehmen: Sprachtheoretische und ästhetische Probleme der literarischen Übersetzung. Stuttgart: M & P, 1996.

KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1997.

LEFEVERE, André. Translation: its genealogy in the west. In S. Bassnett; A. Lefevere (Eds.) Translation, history and culture, p.14-27. London & New York: Pinter Publishers, 1990.

LOMBARDI, Andrea. Translating the Name of God. An Agonistic Translation. In F. Benocci, M. Sonzogni. Translation Transnationalism Word Literature. Essays in Translation Studies 2010-2014. Novi Ligure: Edizioni Joker, 2015, p. 231-252.

MOYAL-SHARROCK, Danièle. Understanding Wittgenstein’s On Certainty. Nova York: Palgrave MacMillan, 2007. (2ª ed.; 1ª ed.: 2004)

MOYAL-SHARROCK, Danièle; BRENNER, W. H. (Ed.): Readings of Wittgenstein’s On Certainty. Londres: Palgrave MacMillan, 2007.

NIETZSCHE, Friedrich. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral. In Os pensadores: Nietzsche I. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 29-38. (1ª edição, em alemão: 1873)

OLIVEIRA, Paulo. A televisão como “tradutora”: veredas do Grande Sertão na Rede Globo. Campinas: Unicamp, 1999. (Tese de Doutorado, DLA/IEL. Versão eletrônica in Vilson J. LEFFA [Compilador]: TELA v.2, Pelotas: Educat, 2000)

OLIVEIRA, Paulo. Benjamin, Derrida e Wittgenstein: forma e percepção de aspectos na tradução. In J. C. Salles (Org.): Empirismo e gramática. Salvador: Quarteto, 2010, p. 207-226.

OLIVEIRA, Paulo. Translation, Sprache und Wahrnehmung. Pandaemonium Germanicum v.18, n.25, Jun. 2015a, p. 91-120.

OLIVEIRA, Paulo. Relative but real and binding: how family resemblance and normative use have found their way into Translation Studies (TS). 38th International Wittgenstein Symposium in Kirchberg am Wechsel. Papers. Neulengbach: Austrian L.-W. Society, 2015b, p. 224-226.

PAGEL, Mark. Wired for Culture. Origins of the Human Social Mind. New York & London, 2012. (Versão compacta em palestra do TED-Talk, disponível no endereço: <http://www.ted.com/talks/mark_pagel_how_language_transformed_humanity?language=pt>. Acesso: 21 Fev. 2016)

PESSOA, Fernando: Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1975. (Obras Completas de Fernando Pessoa Vol. II)

PING, Ke. Translatability vs. Untranslatability: A Sociosemiotic Perspective. In BABEL v.45 n.4, 1999, p. 289-300.

RAJAGOPALAN, Kanavillil. For the umpteenth time, the “native speaker”: or, why the term signifies less and less in the case of English as it spreads more and more thought the world. In Diógenes C. de Lima (Ed.): Language and its Cultural Substract: Perspectives for a Globalized World. NPLA 21. Campinas: Pontes, 2012, p. 37-58.

RICOEUR, Paul. Sobre a tradução. Belo Horizonte: UFMG, 2011. (Tradução: Patrícia Lavelle. Original: Sur la traduction. Bayard, 2011)

SIEVER, Holger. Schleiermacher über Methoden, Zweck und Divination. In L. Cercel; A. Şerban (Org.): Revisiting the Classics: Friedrich Schleiermacher. Berlin & Boston: de Gruyter, 2015, p.195-219.

STANDISH, Paul. ‘THIS is Produced by a Brain-Process!’ Wittgenstein, Transparency and Psychology Today. Journal of Philosophy of Education, West Sussex, v.46, n.1, 2012.

STEINER, George. After Babel: aspects of language and translation. Oxford: Oxford University Press, 1995. (1ª edição: 1975)

TOMASELLO, Michael. Origins of Human Communication. Cambridge & London: Bradford/MIT, 2008.

TOURY, Gideon. Descriptive Translation Studies – and beyond. Amsterdam & Philadelphia: John Benjamins, 2012. (Revised edition)

WITTGENSTEIN, Ludwig. Über Gewissheit = On certainty. London: Blackwell, 200415. (15ª edição. Tradução e edição: Rush Rhees. = Da Certeza [DC])

WITTGENSTEIN, Ludwig. Culture and Value. A Selection from the Posthumous Remains. London: Blackwell, 20069. (9ª edição, bilíngue: inglês/alemão. Ed.: G. H. von

Wright, em colaboração com Heikki Nyman. Revisão do texto: Alois Pichler. Tradução para o inglês: Peter Winch. = Cultura e Valor [CV])

WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophical Investigations = Philosophische Untersuchungen. Malden & Oxford: Wiley-Blackwell, 2009. (Tradução para o inglês: G. E. M. Anscombe, P. S. M. Hacker & J. Schulte. = Investigações Filosóficas [IF]. Edições brasileiras: [1] São Paulo: Editora Nova Cultural,1999. Tradução: José Carlos Bruni. [2] Petrópolis: Vozes, 1994. Tradução: Marcos G. Montagnoli; revisão: Emmanuel Carneiro Leão)

Downloads

Publicado

20.12.2016