Beatriz de Nazaré (1200-1268) e Os sete modos do amor
Palavras-chave:
Desejo, Amor, ConhecimentoResumo
A mística feminina medieval, desenvolvida entre os séculos XII e XV, fala, com propriedade, de um conhecimento íntimo de Deus, de uma união entre o humano e o divino que se funde numa só forma e que pode ser lido à luz do que Bataille chama de erotismo sagrado, onde se desenvolve a ideia de se pertencer a um todo, pois, o que está sempre em questão é a substituição do isolamento do ser, de sua descontinuidade, por um sentimento de continuidade profunda. Este sentimento, por sua vez, pode ser visto em Beatriz de Nazaré (monja cisterciense, nascida em Tirlemont, na Bélgica, em 1200), quando ela pensa e vive o divino na sua plenitude: sem limites, sem objeções, sem intermediários (sine medio), no que podemos chamar de uma ascese do desejo, apresentada ao longo do seu livro Os sete modos de amor. No percurso de sua obra, Beatriz se mostra como uma autêntica trovadora de Deus, como uma anunciadora do divino, cujas ideias ultrapassam, em muito, os simples limites da razão. Desta forma, neste texto, pretendemos apresentar a experiência do desejo em Beatriz de Nazaré como a experiência absoluta do Amor (Minne) que, por sua vez, exige um desnudamento absoluto da alma (amante) que busca Deus (Amor), constituindo-se todos os sete modos do percurso da alma numa verdadeira ascese do desejo, sem, entretanto, deixar de lado toda uma erótica do conhecimento, vista a partir das ideias do conhecimento de si e do conhecimento de Deus.
Downloads
Referências
ARBLASTER, John & FAESEN, Rob. “The influence of Beatrice of Nazareth on Marguerite Porete: The Seven Manners of Love Revised. In: Cîteaux: Commentarii Cistercienses. Revue d’Histoire Cistercienne,fasc. 1-2, 2013, p. 41-88. https://lirias.kuleuven.be/handle/123456789/412675 [Acesso em 10 de Set.2016].
BEATRIZ DE NAZARET. Los siete modos de amor. Vidas y visiones. Trad. María Tabuyo, Barcelona: José J. de Olañeta, 2004, p. 35-63.
BERNARDO DE CLARAVAL. De diligendo Deo. “Deus há de ser amado”. Trad. Matteo Raschietti, Petrópolis: Vozes, 2010.
CIRLOT, Victoria e GARÍ, Blanca. La mirada interior. Escritoras místicas y visionarias en La edad media. Barcelona: Ediciones Martínez Roca, 1999. ÉPINEY-BURGARD, G. e BRUNN, Émile Zum. Mujeres trovadoras de Dios – Uma tradición silenciada de la Europa medieval. Trad. de A. López e M. Tabuyo. Barcelona: Paidós, 2007.
GUILHERME DE SAINT-THIERRY. De natura et dignitate amoris. In: Amour plurielles.
IMBACH, Ruedi e ATUCHA, Iñigo (Orgs.), Paris: Éditions du Seuil, 2006, p.32-49.
LACAN, Jacques. O Seminário: Livro 20, mais ainda. Trad. M. D. Magno. 2ª ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
NOGUEIRA, Maria Simone Marinho. “Nicolau de Cusa e a Correspondência com os monges de Tegernsee”. In.: Anais... XIII Congresso Internacional de Filosofia Medieval, Vitória, Espírito Santo, Agosto, 1-4, 2011/ Autor: Comissão Organizadora do XIII Congresso Internacional de Filosofia Medieval/ Organizado por Jorge Augusto da Silva Santos e Ricardo da Costa. Vitória: DLL/UFES, 2013, p. 719-754.
RICHARD DE SAINT-VICTOR. De quattuor gradibus violentiae caritatis. In: Amour plurielles. IMBACH, Ruedi e ATUCHA, Iñigo (Orgs.), Paris: Éditions du Seuil, 2006, p.144- 159.
RUH, Kurt. Storia della Mistica Occidentale. Mistica femminile e mistica francescana delle origini. Trad. de Giuliana Cavallo-Guzzo. Milano: Vita e Pensiero, 2002.
SILESIUS, Johannes Angelus. Peregrino Querubínico o rimas espirituales: gnómicas y epigramáticas que conducen a la divina contemplación. Trad. Héctor A. Piccoli. Argentina: Ediciones Nieva Hélade, 2000 (www.bibliele.com/silesius).
TOSCANO, María e ANCOCHEA, Germán. Mujeres em busca del amado. Catorce siglos de místicas cristianas. Barcelona: Ediciones Obelisco, 2003.