As mudanças no percurso do olhar (gaze) são indicativas da segmentação textual do tradutor?
Palavras-chave:
Pesquisa do processo tradutório, Segmentação, Mudanças na atenção, Unidades de atenção, Unidades de processamento, Unidades de tradução, Rastreamento ocularResumo
O registro dos acionamentos de teclas e mouse (key logging) demonstra que a produção textual do tradutor pode ser decomposta em unidades delimitadas por fronteiras de pausas (DRAGSTED, 2004, 2005, 2010). Em contrapartida, pesquisas sobre leitura não identificaram fronteiras análogas, visto que as únicas interrupções na atenção visual do leitor consistem, na maioria das vezes, somente em piscadelas de olhos. No entanto, em um experimento envolvendo o rastreamento dos movimentos do olhar de um tradutor em uma tela que apresentava o texto-fonte e o texto-alvo (em processo de produção), os dados do olhar (gaze) mostraram mudanças na atenção visual do tradutor entre os dois textos. Será que tais mudanças podem ser vistas como um indicador de unidades de processamento de conteúdo? Será que tais mudanças nos fornecem informações mais precisas sobre a segmentação ou, pelo menos, são mais informativas que os intervalos nos acionamentos de teclas e mouse? Usando, a título de ilustração, um registro com baixa qualidade de calibração de apenas uma tradução de uma única sentença (extraída de uma tarefa maior), este trabalho tem por objetivo (i) explorar a possibilidade de se identificar segmentos – entendidos como unidades de processamento – com base nas mudanças do percurso do olhar e (ii) investigar o que motiva tais mudanças. Esta pesquisa também busca mostrar em que medida a nossa interpretação das representações do olhar (gaze), ainda representações não ideais, dependem de uma teoria da leitura.
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