Do ciborgue às espécies companheiras: leituras de ficções de Jeanette Winterson e Karen Joy Fowler
Palavras-chave:
Ciborgue, Espécies companheiras, Ontologias pós-humanas, Jeanette Winterson, Karen Joy FowlerResumo
Este trabalho está centrado em duas figuras cruciais para o pensamento crítico de Donna Haraway: o ciborgue (1985) e as espécies companheiras (2003). Surgida no famoso “A Cyborg Manifesto: science, technology, and socialist feminism in the late twentieth century”, a primeira, de continuado impacto nos debates contemporâneos, ajudou a demarcar uma ontologia póshumana de viés utópico, contribuindo para o avanço do pensamento feminista para além dos essencialismos e dos binarismos da cultura, numa postura crítica e irônica, alinhada à ênfase nas diferenças que caracterizou os feminismos nos anos 80. Os limites da teorização sobre o ciborgue são apontados pela própria Haraway, ao justificar o seu segundo manifesto, The Companion Species Manifesto (O manifesto das espécies companheiras) – cujas ideias são retomadas em When Species Meet [Quando as espécies se encontram] (2008) – com a percepção de que o ciborgue não conseguiria mais, por si só, dar conta da tarefa feminista que ambiciona(ra). Nas leituras dos romances The Stone Gods [Os Deuses de Pedra], (2007), de Jeanette Winterson, e We Are All Completely Beside Ourselves [Estamos Completamente Fora de Controle] (2013), de Karen Joy Fowler, analiso figurações ficcionais destas duas metáforas, apontando linhas de continuidade e ruptura com foco na questão das ontologias pós-humanas e explorando as possibilidades de intensificarmos os diálogos entre os estudos literários e o pensamento instigante dessa estudiosa e ativista feminista.
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