A mulher na tradição satírica no latim medieval e a misoginia em De amore, de André Capelão
Palavras-chave:
Literatura medieval, Sátira latina, Misoginia, André Capelão, De amoreResumo
No contexto do apogeu do fenômeno literário conhecido no mundo medieval como arte do amor cortês, peculiar por seu complexo ideário de idealização do amor feminino, verifica-se, contrariamente, um modo virulento de escrita crítica da mulher, quer em forma poética, tratadística ou mesmo misturando ambas. Modulando o cânone da crítica antiga contra o gênero feminino, esse tipo de escrita misógina foi responsável pelo aparecimento e atualização de um modo de literatura satírica composta no latim dos séculos XI e XII, fortemente comprometida com os ideais da misoginia tradicional. É na esteira desse tipo de literatura satírica misógina escrita no latim medieval que o presente artigo tem como objetivo analisar, de forma crítico-teórica e comparatista o polêmico, porque ambíguo nas suas intenções, De amore, tratado escrito por volta de 1185 por André, o Capelão ou André Capelão (Andreas Capellanus). O artigo pretende mostrar que a disposição misógina de Capelão constitui uma forma literária satírica da época conjugada ao cultivado idealismo do amor cortês. Mas, ao mesmo tempo, expressa a ideia da existência de um confronto estratégico da política misógina de estabilizar a figura feminina como um equilíbrio paradoxal perfeito, na medida em que servisse ao mesmo tempo para a difamação e para o elogio colocados à disposição das prerrogativas masculinas.
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