Jean-Claude Bernardet e o envelhecer do intelectual: uma leitura alegórica de Fome (2015)

Resumo

Por volta dos 80 anos de idade, o professor e crítico Jean-Claude Bernardet passa a centrar-se na atuação em filmes marcados pela reflexividade bem como pelo questionamento de seu trajeto anterior como intelectual. Neste artigo, realizamos um estudo de Fome (2015), por ele protagonizado, a partir de uma leitura alegórica (XAVIER, 2019). A abordagem divide-se em dois passos principais: primeiramente, uma contextualização do filme de Cristiano Burlan, junto à ideia geral de cinemas do envelhecer, marcados por ecos modernos, como a autorreflexividade e a construção de memórias fragmentares, colocando-se como políticas sobre si e sobre o envelhecer, em filmes realizados por cineastas ou atores longevos no início do século XXI; num segundo momento, partimos para uma análise alegórica, centrada nas relações entre presente e passado, ou nas interfaces entre Bernerdet-intelectual e o personagem, um ex-professor em situação de rua. Quanto às singularidades de Fome, sugerimos diálogos com a fragmentação própria a uma alegoria moderna, centrada na crítica das relações entre intelectual e povo, sob a chave de contestação da cultura nacional popular, mas também recolocando as ambiguidades do intelectual, a partir de um jogo de tensões, que abrange a narrativa fílmica, a performance de Bernardet e os posicionamentos em relação ao presente.