Estética e política da imagem-tempo em São Bernardo
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1516-1536.2021v23n2.59610Palavras-chave:
Cinema, Memória, História, VilolêciaResumo
O escrito aborda a transição estética temporal do cinema-clássico ao cinema-moderno na narrativa cinemanovista de São Bernardo (1972), de Leon Hirszman, em face da censura após o AI-5 de 1968, o qual é o divisor da primeira (1954-1968) para a segunda fase (de 1968 em diante) do Cinema Novo. A hipótese é que a narrativa de seu protagonista, Paulo Honório, oferece uma versão estética das temporalidades moderna e ditatorial articuladas à história e à política na tensão devir-estagnação. A proposta se fundamenta nos conceitos imagem-tempo, de Deleuze, atinente ao cinema-moderno (neo-realismo); Nachleben, conforme Aby Warburg; e “alegoria”, a partir de Benjamin. Identificamos um retorno narrativo/histórico, no bojo do presente à época da obra, de um contexto político de Graciliano Ramos, enquanto histórica de sua projeção, emergência e inscrição de uma repetição pela diferença do texto-imagem no campo da linguagem literatura-cinema. Hirszman sobrescreve ou subscreve um passado na paisagem política de sua época, interferindo na história da ditadura. A simultaneidade entre São Bernardo e o “Regime Militar” em 1972 evidencia que o diretor em pauta realizou uma montagem – sobreposição – em que presente e passado se relacionaram. Nosso exercício seguiu o princípio da montagem presente-passado, pois expomos as camadas arqueológicas e diacrônicas da história entre as décadas de 1930-1970-2017, não perdendo de vista que “Os São Bernardos” (Ramos e Hirszman) e a Ditadura emergem na atualidade destas páginas como sobrevivências alegóricas de um passado memorável.
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