Direito à palavra: a dimensão linguística e política na Guiné-Bissau
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1516-1536.2021v23n3.60227Palavras-chave:
Guiné-Bissau, Direito à palavra, Pós-colonial, Língua portuguesa, Guerra civilResumo
Neste artigo, procuro refletir sobre o direito à palavra, questionando alguns guineenses sobre o período do conflito armado político-militar de 1998/1999 na Guiné Bissau. Busco compreender como rememoram seu passado, como são percebidas e narradas as suas experiências vividas, nos dias atuais. Sabe-se que as guerras implicam em reconfigurações importantes na sociedade, no caso no continente africano, um dos objetivos das lutas por libertação era também a chamada libertação intelectual e psicológica, era preciso libertar a gente africana de conceitos, comportamentos e valores impostos pelo sistema colonial. Segundo um dos interlocutores, o direito à palavra teria sido uma das conquistas da guerra civil mais importantes. De um lado, esse direito abarca uma dimensão sociológica e de identidade, abordado numa perspectiva linguística e cultural, por outro lado, abrange uma dimensão política no sentido de participação do cidadão nas decisões que envolvem a sua vida, assumindo os riscos e as consequências desse direito. A língua oficial dessa ex-colônia portuguesa é o português, contudo, este é falado por uma minoria da população. Em geral, nas ruas e no cotidiano, utiliza-se o chamado “crioulo”, uma língua pós-colonização que mistura vocábulos da língua portuguesa e expressões étnicas. Seguindo os debates contemporâneos dos estudos culturais e pós-coloniais e da história oral, dialogo com autores como Frantz Fanon, Stuart Hall, Homi Bhabha, Achille Mbembe e Spivak, dentre outros.
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