O patriarcado africano na prosa de Ousmane Sembène
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1516-1536.2021v23n3.60400Palavras-chave:
Literatura, Ousmane Sembène, Senegal, Patriarcado, PoligamiaResumo
Da primeira geração de cineastas da África subsaariana, destaca-se o senegalês Ousmane Sembène (1923-2007). Seus dois últimos filmes, Faat Kiné (2000) e Moolaadé (2004), contêm uma visão crítica do patriarcado africano. Essa crítica sembeniana já aparece no seu livro intitulado Voltaïque (1962). Acontece que a arte cinematográfica de Ousmane Sembène tornou-se mais conhecida internacionalmente do que a sua arte literária. Sessenta anos depois da publicação de Voltaïque, o presente artigo trata do patriarcado africano a partir de três novelas desse livro. Em termos teórico- metodológicos, optou-se por uma análise temática e transversal da prosa de Ousmane Sembène para deslindar suas críticas ao patriarcado e ao sistema poligâmico africanos. Procura-se demonstrar como as novelas “Ses trois jours”, “Souleymane” e “Lettre de France” contêm alguns elementos sociológicos e históricos para a análise dacondição femininasob o patriarcalismo que, mais tarde, ganharamdestaque no marxismo feminista de Silvia Federici (2019) e na “reflexão subsaariana” de Odome Agone (2021). Na vanguarda da crítica francófona ao patriarcalismo africano, a prosa sembeniana antecipou também àquela da sua compatriota Mariama Bâ no que concerne à inscrição do patriarcado na literatura senegalesa. Por fim, conclui-se que as três novelas já referidas revelam uma literatura engajada na missão de emancipar homens e mulheres num contexto de independência política dos países africanos e novos projetos de sociedade pós-colonial.
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