Wangrin: a caricatura do homem colonizado

Autores

  • Alice Botelho Peixoto Geed - Grupo de Estudos de Estéticas diaspóricas

Palavras-chave:

Literatura africana, Pós-colonialidade, Identidade, Violência, Mali

Resumo

L’étrange destin de Wangrin ou les roueries d’un interprète africain (1973) é a obra tida como único romance do intelectual malinês Amadou Hampaté Bâ. A narrativa encena as peripécias do personagem título, desde sua ascensão como intérprete colonial até seu sucesso como empresário e finalmente sua derrocada, trapaceado pela amante ou pelo destino. A trajetória de Wangrin descortina os meandros da colonização francesa, no território do atual Mali. Neste recorte, procuramos demonstrar como a identidade de Wangrin é construída nesse intricado e violento momento que foi a colonização europeia em solo africano. Como metonímia do sistema político encenado, a identidade fragmentada pela violência colonial é reconstruída a partir de novas relações, assumindo características que desmancham a fixidez. Adotamos a perspectiva de leitura proposta pela teoria pós-colonial desenvolvida por Mbembe, Mata, Moura, entre outros pesquisadores, na esteira de seus predecessores Frantz Fanon e Albert Memmi, principalmente. Tal vertente de análise nos permite ir além das dicotomias da modernidade e periodizações puramente cronológicas, a fim de ampliar as possibilidades de expressão tanto da narrativa como estratégia literária, quanto do personagem em si, manifestação dessa estratégia enquanto caricatura de um homem possível. Ao inscrever a análise na vertente pós-colonial, é construída uma base argumentativa que acentua o conflito de epistemologias provocado pela presença do colonialismo europeu no território africano.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

BÂ, Amadou Hampâté. Amkoullel, o menino fula. São Paulo: Palas Athena, 2003.

BÂ, Amadou Hampaté. L'étrange destin de Wangrin ou les roueries d'un interprète africain. Paris: 10/18 Domaine Étranger, 1992.

BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e estética. São Paulo: Unesp, 1993.

BARTHES, Roland. O Rumor da língua. São Paulo: Brasiliense, 1988.

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução Sérgio Paulo Ruanet. 7. ed. Obras escolhidas. v.1. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BHABHA, Homi K. O Local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.

CHRISTIAN, Dadie Kakou. Um africano lê Macunaíma: uma interpretação da rapsódia de Mário de Andrade com base em elementos literários e culturais negro-africanos. USP. Tese de doutorado, 2007.

FANON, Franz. Peau noire, masques blancs. Paris: Seuil – Essais, 1971.

GARUBA, Harry. Reflexões provisórias sobre animismo, modernidade/colonialismo e a ordem africana do conhecimento. Cadernos Cespuc. n. 32. p. 123-131, 1º sem. 2018.

GLISSANT, Édouard. Introduction à une poétique du divers. Paris: Gallimard, 2013.

HALL, Stuart. Da Diáspora, Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2013.

ISER, W. Os atos de fingir ou o que é fictício no texto ficcional. In: COSTA LIMA, Luiz (Org.) Teoria da literatura em suas fontes. V. 2. Ri de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

MATA, Inocência. A crítica literária africana e a teoria pós-colonial: um modismo ou uma exigência? In: Ipotesi. Juiz de Fora, v. 10, n. 1, n. 2, p. 33-44, jan/jun, jul/dez. 2006.

MBEMBE, A. Politiques de l avie et violence spéculaire dans la fiction d’Amos Tutuola. Cahiers d’études africaines, v. XLIII (4), n. 172, 2003. pp. 791-826. Disponível em: http://etudesafricaines.revues.org/1466.

MBEMBE, Achille. As formas africanas de auto-inscrição. Estudos Afro-Asiáticos. Ano 23, n. 1, pp. 171-209, 2001.

MBEMBE, Achille. Cahiers d’Études africaines, vol. XLIII, n.4, p.172, 2003.

MEMMI, Albert. Portrait du colonisé, portrait du colonisateur. Paris: Gallimard - Folio actuel, 2012.

MIGNOLO, Walter D. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Literatura, língua e identidade, nº 34, pp. 287-324, 2008.

MOURA, Jean-Marc. Littératures francophones et théories postcoloniale. Paris: PUF, 2007.

NOA, Francisco. Império, mito e miopia: Moçambique como invenção literária. São Paulo: Kapulana, 2015.

WATT, Ian. A ascensão do romance: estudos sobre Defoe, Richardson e Fielding. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Downloads

Publicado

16.12.2021

Edição

Seção

OUTRAS VOZES DE ÁFRICA