As representações do cigano na ficção de José de Alencar e na imprensa oitocentista: fascínio e marginalização
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1516-1536.2022v24n3.64390Palavras-chave:
romance oitocentista, teatro, ciganos, marginalização, fascínioResumo
O presente trabalho investiga as representações ambíguas dos ciganos na produção de José de Alencar, atentando-se, em particular, às figurações desse grupo na peça O Jesuíta (1875) e, sobretudo, no romance O Sertanejo (1875). Tais obras inscrevem em suas tramas a presença de outras culturas e grupos, além dos considerados formadores da nação, que aqui se encontravam no período colonial. O cigano surge nestas obras como um grupo marginalizado cujas representações, se por um lado, são envoltas em fascínio, por outro, ressumbram carregadas tintas de suspeitas e reservas que compõem uma espécie de discurso anticigano. Com efeito, a maneira como os ciganos emergem no universo de José de Alencar como misteriosos e envoltos em halo de desconfiança dialogam com imagens veiculadas pela imprensa da época. As características desse grupo são compartilhadas dos estereótipos difundidos e propagados nas páginas dos jornais fluminenses oitocentistas, que fornece um quadro de referências para tipificações. Propomos estudar a figura dos ciganos em Alencar, a partir da reconstituição de um referencial alimentado tanto pela tradição literária quanto pelo pendor anticigano observado e de suas distantes nuances disseminadas no âmbito da imprensa.
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