ROBERTO ANTUNES? PRESENTE! A LUTA PELO DIREITO AO LUTO EM “O VELÓRIO”, DE BERNARDO KUCINSKI

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22478/ufpb.1516-1536.2023v25n2.66434

Palavras-chave:

Bernardo Kucinski; literatura de testemunho; ditadura civil-militar brasileira; memória; luto.

Resumo

Somando-se a tantas outras violações de direitos humanos fundamentais, uma das maiores violências de Estado praticadas pela ditadura contra os familiares dos “desaparecidos políticos” foi negar-lhes o direito ao luto; cassar-lhes o direito de velar, honrar e enterrar devidamente os seus mortos. Tal violência é exposta no conto “O velório”, de Bernardo Kucinski, integrante do livro Você vai voltar pra mim e outros contos (2014). Neste artigo, propondo interligações temáticas com o romance K.: relato de uma busca, do mesmo autor, e agenciando aportes críticos e teóricos de Jaime Ginzburg e Maria Zilda Ferreira Cury, pretendemos argumentar que o referido conto – assim como, de modo mais amplo, toda a obra testemunhal de Kucinski na qual o relato se insere – constitui primordialmente literatura de resistência contra a política de desmemória executada pelo Estado brasileiro, na medida em que, pela via literária, o autor denuncia não apenas o assassinato de dissidentes da ditadura civil-militar como também a interdição do direito humano ao luto infligida aos entes queridos de “desaparecidos”, como Roberto, protagonista incorpóreo do “velório” narrado. Além de denúncia contra a privação do direito à vida e à integridade do corpo, o conto em apreço constitui um sonoro alerta para o risco de reedição, no Brasil contemporâneo, de práticas autoritárias comuns em um período histórico muito recente e nunca inteiramente enfrentado pelos brasileiros como nação – um alerta que se faz urgente e incontornável no atual contexto político do maior país da América do Sul.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Fabíola Simão Padilha Trefzger, Universidade Federal do Espírito Santo

Doutora em Letras: Estudos Literários pela UFMG. Fez pós-doutorado na USP. É professora de literatura e de teoria da literatura do Departamento de Línguas e Letras da Ufes e do Programa de Pós-Graduação em Letras da mesma instituição.

Referências

CURY, Maria Zilda Ferreira. Non habeas corpus: direito ao corpo na ficção de Bernardo Kucinski. In: GOMES, Gínia Maria (Org.). Narrativas brasileiras contemporâneas: memórias da repressão. Porto Alegre: Editora Polifonia, 2020.

GAGNEBIN, Jeanne-Marie. O preço de uma reconciliação extorquida. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (Org.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.

GINZBURG, Jaime. Memória e ritual em “O velório”, de Bernardo Kucinski. In: OLIVEIRA, Rejane Pivetta de.; THOMAZ, Paulo C. (Org.). Literatura e ditadura. Porto Alegre: Zouk, 2020.

KEHL, Maria Rita. Tortura e sintoma social. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir. (Org.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.

KUCINSKI, Bernardo. K.: relato de uma busca. São Paulo: Cosac Naify, 2014.

KUCINSKI, Bernardo. O velório. In: KUCINSKI, BERNARDO. Você vai voltar pra mim. São Paulo: Cosac Naify, 2014.

Downloads

Publicado

19.12.2023

Edição

Seção

DOSSIÊ: A LITERATURA SOBRE AS DITADURAS NO CONE SUL