MARGENS TRANSNACIONAIS:
AUTORIA FEMININA BRANCA E REPRESENTAÇÃO LITERÁRIA DE PERSONAGENS NEGRAS NO SÉCULO XIX
DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.10474620%20Palavras-chave:
representação negra, escritoras oitocentistas, escravidão, abolição, circulação de impressosResumo
A era das revoluções trouxe uma série de transformações para a organização da sociedade ocidental. Entre aquelas, a Revolução Haitiana, especificamente, foi uma das grandes responsáveis pela necessidade dos governos, independentes ou não, discutirem os rumos da escravidão no mundo Atlântico. Mulheres e negros participaram desse processo e a posição desprivilegiada que ocupavam lhes deu percepções particulares das mudanças sociais. Neste estudo, foram selecionadas três escritoras que circularam pelo Atlântico através de suas ideias ou como viajantes e consequentemente integraram o sistema mundial de trocas culturais que ocorrem desde, pelo menos, fins do século XVIII. Cada uma delas nasceu em um ponto diferente do Atlântico: Nísia Floresta, nasceu no Brasil e viajou por diversos países da Europa por grande parte da sua vida; Harriet Beecher Stowe nasceu nos Estados Unidos e viajou principalmente após o sucesso internacional que seu romance, A Cabana do Pai Tomás alcançou ao redor do mundo; Claire de Duras era francesa e atravessou os conturbados períodos revolucionários de seu país, precisando se refugiar por um tempo fora dele. O que uniu as três pontas dessas histórias foi o interesse de todas elas em se aventurarem a criar representações de pessoas negras em obras bastante diversas, mas que dialogavam com um esforço transnacional de dar destaque a uma parcela da população mundial que era inferiorizada pelo pensamento europeu, mas que ganhara notoriedade social depois da Revolução do Haiti.
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