Ateliês do sexo, alcova edênica
o colóquio profano de Adão e Eva com Eros nas telas libidinais de Val Margarida
Mots-clés :
Pintura Erótica, Arte Naif, Val MargaridaRésumé
O conluio entre os imperativos da carne e a receptividade da ficção provoca uma tensão, de cunho erótico, capaz de ludibriar o observador, lançando-o numa zona diegética tempestiva, que tampona, ilusoriamente, os buracos impostos pela realidade. A crueza de um alter-ego servo do prazer e os engodos de uma voz narrativa fecenina fornecem o "combustível" para a excitação e, ao mesmo tempo, para o declínio do corpo, o qual, de modo surpreendente, liberta-se dos grilhões do pudor e da inocência. Entrementes, o presente trabalho se infiltrará pelas entranhas de uma das pinturas série Paraíso, um compêndio telas da artista naif Val Margarida, no intento de aproximar, (im)possivelmente, instâncias que insistem em se desencontrar. Nas pinturas da Val Margarida, não à toa, a quebradiça malha que protege o humano, da lascívia que o habita, é, subitamente, desfeita, destruída pelos ataques adocicados de Thânatos, cujos suspiros e impropérios fazem aflorar o incauto Eros, que, impotente, subjuga-se à tortura e à dor. É latente a insurgência de vozes líricas complacentes, que, ora devotam cuidados ao inefável, ora tornam-se agentes que amaldiçoam e praguejam, num movimento de puro êxtase, em que a libido fere a folha, a tinta é abusada e o pincel, deslizando em semânticas, desenha o orgasmo. Seu cunho, herético por excelência, exaure o desejo, sacraliza o encontro fúnebre dos corpos e, sem cerimônia, profana a religiosidade de deuses e mortais. Debalde, a consciência ecoa em desespero, silenciando-se, sem êxito algum perante a efervescência sexual. Para tanto, valemo-nos de afamados e abjetos pesquisadores dos estudos erótico-pornográficos, tais como Georges Bataille e Eliane Robert Moraes.