Vida, trabalho e cotidiano – história e memória das mulheres na colonização da transamazônica
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.2317-6725.2019v24n41.47657Resumo
O decreto que institui o Programa de Integração Nacional, em junho de 1970, prevê como parte de seus intentosuma política de colonização às margens da rodovia Transamazônica. A ação consistia na transferência de grandes contingentes de mão-de-obra proveniente do Nordeste e a posterior concessão de terras para essas famílias na Amazônia –abrandando as consequências da seca na primeira região e garantindo a soberania nacional nas áreas de fronteira, como aponta a retórica oficial do regime da ditadura. No artigo, pretendo destacar a memória das mulheres migrantes que se deslocaram às regiões de colonização em busca de novos locaisde moradia e trabalho. Com o rigor metodológico da história oral, serão analisadas as entrevistas a mim concedidas por Creuza Azevedo de Melo e Maria Eunice Alves. Através da memória do deslocamento e da recriação da vida nas margens da rodovia, poderemoster contato com o cotidiano dessas mulheres no início da década de 1970. Entende-se que a história do cotidiano é um espaço privilegiado para investigarmos o papel de gênero desempenhado pelas mulheres na constituição familiar, assim comotambém auxilia acrítica àconsequente divisão sexual do trabalho no campo. Seus depoimentos também permitem o resgate e a problematizaçãode uma política governamental orientada pela ditadura militar e direcionada às classes populares do Nordeste. De maneira geral, a vida e o trabalho das mulheres migrantes na Transamazônica expõem a complexidade dos processos de ocupação dos sertões brasileiros no século XX. Por sua vez, o uso de seus depoimentos é fundamental para entendermos a participação feminina na constituição de novas territorialidades. As mulheres, agora protagonistas de uma nova vida na Amazônia, são sujeitos determinantes na configuração das práticas culturais em regiões de“colonização dirigida”.