As antigas fazendas jesuíticas
o transporte e a venda de gado dos sertões do Piauí para a feira de Capuame, Bahia (1769-1789)
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.2317-6725.2023v28n49.67489Palavras-chave:
Boiadas, Sertões do Piauí, Feira de CapuameResumo
O envio e a venda de reses para a Feira de Capuame, na Bahia, constituiu-se como um dos negócios empreendidos pelas autoridades régias após a expulsão dos padres jesuítas da capitania do Piauí no ano de 1759 e o confisco de todos os seus bens e patrimônios, como escravos e gados. Essa temática foi estudada por diversos autores, desde estudos clássicos até os mais recentes. No entanto, ainda é um tema que carece de aprofundamento, pois apresenta muitas lacunas, principalmente, no que se refere ao funcionamento desse negócio, os agentes (trabalhadores livres e escravizados) e as autoridades régias envolvidas. Além disso, torna-se necessário compreender o quantitativo de reses e boiadas enviadas, bem como os rendimentos alcançados no período de 1770 a 1788. Pretendemos demonstrar que, em que pese as dificuldades relacionadas às enormes distâncias, as secas, o dispêndio de força de trabalho e a perda de animais durante as longas jornadas de viagem, a venda de gado em pé era lucrativa e se manteve como uma alternativa importante para o abastecimento de centros urbanos como Salvador até fins do século XVIII, o que nos permite entender a dimensão do patrimônio deixado pelos religiosos e os negócios em que eles estavam envolvidos na região.
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Ofício do governador do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Martinho de Melo e Castro, sobre o rendimento dos bens que pertenceram aos jesuítas, como também o total das reses de sete boiadas enviadas para a capitania da Bahia. AHU, Piauí. 29/07/1771. cx. 11, doc. 669.
Ofício do governador do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Martinho de Melo e Castro, sobre a impossibilidade de enviar a certidão do rendimento dos bens que pertenceram aos jesuítas, pelo motivo do escrivão estar acompanhar o ouvidor numa correição pela capitania, e remetendo as relações referentes aos animais que partem para a Bahia e vão participar na feira. AHU, Piauí. 12/07/1773. cx. 12, doc. 707.
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