A criatura, a criadora e a crítica: Frankenstein, de Mary Shelley, sob a ótica de Um teto todo seu, de Virginia Woolf
Palavras-chave:
Mary Shelley, Frankenstein, Virginia Woolf, Autoria feminina, Um teto todo seuResumo
Este artigo visa apresentar a autora inglesa Mary Shelley (1797-1851) como iniciadora da ficção científica com a obra Frankenstein ou o Prometeu Moderno (1818), e esta como uma obra matricial de autoria feminina, para questionar a sua possível ausência no Museu Britânico e/ou os valores canônicos defendidos por Virginia Woolf (1882-1941), a partir de seus apontamentos sobre a mulher na ficção, no ensaio Um teto todo seu (1929). Para isso, observaram-se os pontos críticos assinalados por Woolf, contrapostos com a vida de Mary Shelley e a obra Frankenstein, para se buscar entender a não referência a Shelley diante dos diversos nomes de autores citados no ensaio. Woolf admite que a estrutura patriarcal barrou a mulher, no decorrer dos séculos, em uma vida sem condições materiais para pensar e contemplar no momento da criação. Contudo, Shelley, mesmo vivendo em uma sociedade vitoriana patriarcal do século XIX, na qual a mulher deveria ser submissa ao homem, teve condições adequadas à produção ficcional ativa, escrevendo obras como Frankenstein, que permanece presente 200 anos após sua publicação, desafiando a todos com um magnetismo que perpassa o campo das artes. Uma obra que deveria estar incandescente nas estantes do Museu Britânico.
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