O cômico e o fantástico em “O Nariz”, de Akutagawa
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1516-1536.2021v23n1.57735Palavras-chave:
Ryûnosuke Akutagawa (1892-1927), O Nariz, Fantástico, Humor, GroteResumo
Neste trabalho, analisamos o conto “O nariz”, do escritor japonês Ryûnosuke Akutagawa (1892-1927), buscando examinar o modo como se combinam o cômico e o fantástico na narrativa em questão. Akutagawa é mais conhecido pela autoria de “Rashômon”, conto que serviu de inspiração para o filme homônimo de Akira Kurosawa (1910-1998) – embora a maior parte do enredo deste filme se baseie na narrativa intitulada “Dentro da mata”, também de Akutagawa. Já o conto “O nariz”, adaptado do Konjaku Monogatari, coletânea de contos populares do período Heian (794-1185), também recebeu influência do célebre trabalho homônimo de Nicolai Gógol (1809-1852), conforme observa o crítico coreano Beongcheon Yu (1976). Para David Roas (2014), “O nariz”, de Gógol, é um exemplo de grotesco, pois, neste conto, o humor anularia o efeito fantástico. Isso porque, para o teórico espanhol, o fantástico se constrói a partir de um acontecimento dentro da narrativa que leva o leitor a questionar a sua própria concepção de realidade. Assim, para que se dê o efeito fantástico, é necessária uma boa dose de realismo na narrativa, combinada evidentemente com algo sobrenatural. Mas, diante dos acontecimentos completamente absurdos relatados na história de Gógol, a inquietação característica do fantástico perderia sua força, dando lugar ao humor. Essa combinação entre sobrenatural e humor é considerada, por Roas, como grotesca. Cabe investigar, portanto, se algo semelhante acontece também em “O nariz”, de Akutagawa.
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