A narrativa autobiográfica e a memória da ditadura civil-militar: uma análise comparada entre Brasil e Argentina

Autores

  • João Ricardo Pessoa Xavier de Siqueira Programa de Pós-Graduação em Letras/Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
  • Alfredo Adolfo Cordiviola Programa de Pós-Graduação em Letras (UFPE)

Palavras-chave:

Memória, Ditaduras Militares, Relatos autobiográficos, Brasil, Argentina

Resumo

Dentre os acontecimentos que contribuíram para a caracterização do século XX como sendo a “era das catástrofes”, ou “dos extremos”, as ditaduras civis-militares instauradas na segunda metade do século no continente latino-americano podem ser consideradas como fenômenos que reforçam esta ideia. A experiência individual e a vivência coletiva moldadas por esse contexto histórico propiciaram (e ainda propiciam) material considerável para a produção de obras literárias marcadas pela tônica testemunhal, característica aos relatos autobiográficos. Partindo-se desse panorama, o presente trabalho tem como objetivo estabelecer uma análise comparada entre duas narrativas de cunho autobiográfico que se inserem em um escopo mais amplo de obras cujo motivo central é o resgate do passado vivenciado durante os anos de ditadura militar no Brasil e na Argentina. Apresentando a memória – considerada nos planos individual e coletivo – como fio condutor das narrativas, a jornalista brasileira Maria Pilla (2015) e a escritora argentina Nora Strejilevich (2006) fornecem em Volto semana que vem e em Una sola muerte numerosa, relatos autobiográficos de suas vivências enquanto militantes e perseguidas pelos regimes militares que se instauraram nos países mencionados entre as décadas de 60 e 80. A partir das obras em questão, a abordagem comparada possibilitou a identificação de afinidades na forma como as autoras constituem, processam e materializam a memória do trauma individual e coletivo na tessitura do texto literário.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALDRIDGE, A. Owen. Propósito e perspectivas da literatura comparada. In: COUTINHO, Eduardo F.; CARVALHAL, Tânia Franco (orgs.). Literatura comparada: textos fundadores. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

ARFUCH, Leonor. Memoria y autobiografia: exploraciones en los límites. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2013.

ASSMANN, Jan. Memória comunicativa e memória cultural. História Oral. v. 19, n. 1, jan./jun. 2016, pp. 115-127.

BOSI, Éclea. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

BUESCU, Helena Carvalhão. Grande angular: comparatismo e práticas de comparação. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2001.

BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.

CALLIGARIS, Contardo. Verdades de autobiografias e diários íntimos. In: Estudos históricos. 1998. n. 21, p. 43-58.

DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectiva, 2002.

FOUCAULT, Michel. O que é um autor. In: Ditos e Escritos: estética – literatura e pintura, música e cinema (vol. III). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001.

FREUD, Sigmund. Luto e melancolia. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

GENETTE, Gerard. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Ed. monolíngue. Extratos traduzidos do francês por Luciene Guimarães e Maria Antônia Ramos Coutinho. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2006. (Material em PDF).

GUYARD, Marius-François. Objeto e método da literatura comparada. In: COUTINHO, Eduardo F.; CARVALHAL, Tânia Franco (orgs.). Literatura comparada: textos fundadores. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo: história, teoria, ficção. Rio de Janeiro: Imago, 1991.

JOZEF, Bella. (Auto)biografia: os territórios da memória e da história. in: LEENHARDT, Jacques; PESAVENTO, Sandra J. (orgs.) Discurso histórico e narrativa literária. Campinas: Editora da Unicamp, 1998.

KLINGER, Diana. Escrita de si como performance. In: Revista brasileira de literatura comparada, v. 12, 2008.

NITRINI, Sandra. Literatura comparada: história, teoria e crítica. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015.

NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Revista Prof. História. São Paulo: 1993. (10), dez. 1993. p. 7-27.

PILLA, Maria. Volto semana que vem. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

RICHARD, Nelly. Intervenções críticas: arte, cultura, gênero e política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2007.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. Apresentação da questão da literatura do trauma. In: _____ (org.). História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora da Unicamp, 2013.

STREJILEVICH, Nora. Una sola muerte numerosa. Miami: North South Center Press, 1997. Disponível em: <http://norastrejilevich.com/images/USMNTercera.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2019.

TROUSSON, Raymond. Temas e Mitos: questões de método. Lisboa: Horizonte Universitário,1988.

WILLEMART, Philippe. Crítica genética e psicanálise. São Paulo: Perspectiva; Brasília: CAPES, 2005.

Downloads

Publicado

30.01.2020