O MEB E A DITADURA MILITAR:

LIÇÕES (DES)CONTÍNUAS

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22478/ufpb.2359-7003.2024v33n1.70589

Palavras-chave:

Movimento de Educação de Base, Educação Popular, Direitos Humanos

Resumo

Este artigo analisou o processo dialético de continuidade e descontinuidade das atividades do Movimento de Educação de Base (MEB), discutindo sua criação, funcionamento, práticas educativas e trajetória antes e durante o período do regime ditatorial. O MEB foi criado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em parceria com o governo federal, para implementar a alfabetização de adultos nas regiões, à época, denominadas “subdesenvolvidas”, a partir do sistema de radioeducação. Assim, rememorou-se as práticas educativas do Movimento na efervescência popular dos anos 1960. Considerou-se como fontes documentais: a legislação (Decretos Presidenciais), cartas de educandos e monitores e documentos produzidos pelo MEB (relatórios, cartas, programas radiofonizados e lições da cartilha Viver é lutar). Concebendo a memória como poder e forma de resistência, recorreu-se, para apoiar a discussão desses documentos, aos estudos de Freire (2005), Kadt (2007), Góes (2002) e Pollak (1992). Como resultados, evidenciou-se que o MEB marca a década de 1960 como um grande passo para a educação de adultos, pois possibilitava ao sujeito/trabalhador muito além do conhecimento da palavra, permitindo o reconhecimento de si, como cidadão, dos direitos que precisavam ser conquistados e o entendimento do papel que esse sujeito produtor de cultura possuía na construção da sociedade. Todavia, o MEB sofreu duras penalidades para resistir à ditadura imposta pelo golpe civil-militar, o que implicou na redefinição de sua direção educativa, mais e mais descontinuada, no sentido do silenciamento e, afinal, do cancelamento do programa.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Emmily Daiane da Silva, UFPB

Graduada em Pedagogía (Universidade Federal da Paraíba), atua como mestranda em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas pelo PPGDH (Universidade Federal da Paraíba). É bolsista no projeto de extensão “Mulheres e prisões: cooperação técnica junto à Defensoria Pública do Estado da Paraíba na garantia de Direitos Humanos de mulheres e mães”. Membro do Laboratório de Pesquisa e Extensão em Subjetividade e Segurança Pública da UFPB (LAPSUS). Possui pesquisas nos seguintes temas: História e Memória da educação, Cidadania e Dignidade Humana, Educação em Direitos Humanos.

Kilma Cristeane Ferreira Guedes, Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Letras-PPGL/UFPB, na Linha de Pesquisa, Leituras Literárias. Mestra em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, PPGE/UFPB, na Linha de Pesquisa, História da Educação (2022). Professora Efetiva de Língua Portuguesa da Secretaria de Estado da Educação da Paraíba – SEE/PB. Possui Especialização em Língua, Linguagem e Literatura pelo Centro Integrado de Tecnologia e Pesquisa, CINTEP (2019). Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba (2019). Graduada em Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (2018). Membro do Grupo de Pesquisa “Formação de Professores e as relações entre as práticas educativas em leitura, literatura e avaliação do texto literário” – PROLELI.

Fernando Cézar Bezerra de Andrade, Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Graduado em Psicologia, Filosofia e Letras, com Especialização em Teoria Psicanalítica, Mestrado em Educação e Doutorado em Educação pela Universidade Federal da Paraíba. Professor do Departamento de Fundamentação da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da UFPB, na Linha Educação em Direitos Humanos.

Referências

BILHÃO, Isabel Aparecida; KLAFKE, Álvaro Antonio. Do SIRENA ao MEB: articulações entre empresários, Igreja Católica e Estado para a implantação da radioeducação no Brasil (década de 1950). Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, v. 25, e250052, 2020.

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Censo Demográfico 1960. Rio de Janeiro, 1960.

CABRAL, Bruna M. A Igreja Católica e os mecanismos de atuação no meio rural brasileiro (1955-1964). Revista Escritas, v. 6, n. 1, 2014.

CATRINCK, Isabela M. O.; RIBEIRO, Maria Clara M. A. Paulo Freire e o pensamento educacional progressista brasileiro: ataques do Escola sem Partido. Revista Teias, Rio de Janeiro, v. 22, n. 67, p. 72-84, out. 2021.

DREIFUSS, René A. 1964: a conquista do Estado. Ação política, poder e golpe de classe. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1981.

FÁVERO, Osmar. Uma pedagogia da participação popular: análise da prática educativa do MEB – Movimento de Educação de Base (1961-1966). Campinas: Autores Associados. (Coleção Educação Contemporânea), 2006.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2005.

GÓES, Moacyr de. Voz Ativa. Os movimentos de cultura/educação popular. In: CUNHA, Luiz Antônio; GÓES, Moacyr de. O golpe na educação. 11. ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 15-30.

GOMES, Bianca Sthephanny Martins; SILVA, Indayane Gomes da; FERRONATO, Cristiano. Viver é lutar com o mutirão: cartilhas como instrumento de ação no movimento de educação de base (1962 – 1965). Revista @mbienteeducação, São Paulo, v. 15, n. 00, p. 1-22, 2022.

KADT, Emanuel de. Católicos radicais no Brasil. Brasília: UNESCO, MEC, 2007. (Coleção Educação para todos; 17).

LEAL, Maria Cristina. As alterações sofridas pelos conceitos de cultura popular e educação popular ao longo da história brasileira: do Império à República. Rio de Janeiro, 1985 (mimeo.).

LIMA, Jéssika Maria. A resistência do movimento de educação de base no Piauí durante o regime militar. Humana Res, v. 1, n. 1, 2019, p. 132-143.

MEB. Correspondência de alunos e professores. Série: Correspondência entre Escolas Radiofônicas. Natal (1959-[1963, 1964]). Fundo MEB. Acervo CEDIC. Mostra Virtual – Memória da Educação: Movimento de Educação de Base e suas Escolas Radiofônicas. Disponível em: http://www4.pucsp.br/cedic/meb/nas-ondas-do-radio/arquivos-pdf/2-correspondencias-alunos-monitores-0.pdf. Acesso em: 05 maio 2024.

MEB. Documentos Legais. Apostila – 1, série A, s/l: s/d. 35p. (1961). Fundo MEB. Acervo CEDIC. Mostra Virtual – Memória da Educação: Movimento de Educação de Base e suas Escolas Radiofônicas. Disponível em: http://www4.pucsp.br/cedic/meb/o-meb/arquivos-pdf/1_apostila-documentos-legais.pdf. Acesso em: 05 maio 2024.

MEB. Relatório do I Encontro de Coordenadores. (1962). Conclusões/1. Projeto de Pesquisa Centro de Memória Viva. Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal de Goiás. Banco de Dados dos Projetos: Projeto Regional: Centro Oeste Centro Memória Viva Documentação e referência em EJA, Educação Popular e Movimentos Sociais; Projeto Estadual: Goiás Centro Memória Viva Documentação e referência em EJA, Educação Popular e Movimentos Sociais; Subprojeto: Movimento de Educação de Base em Goiás (MEB-GO). Documento 322, Seção: Referencial Teórico, Série: Institucional, Dossiê: RT INS MNO - Dossiê 2 MEB Nacional e MEB outros Estados. Disponível em:

https://www.fe.ufg.br/nedesc/cmv/visao/formularios/RelatorioDocForm.php?cod_projeto_regional=1&cod_projeto_estadual=1&cod_sub_projeto=1&titulo=&autoria=&genero=&palavra_chave. Acesso em: 04 maio 2024.

MEB/Natal. Série Mensagens transmitidas em aulas. (1963). Programação da Emissora Rural de Natal. Fundo MEB. Acervo CEDIC. Mostra Virtual – Memória da Educação: Movimento de Educação de Base e suas Escolas Radiofônicas. Disponível em: http://www4.pucsp.br/cedic/meb/nas-ondas-do-radio/arquivos-pdf/D_Mensagens-Emitidas_0.pdf. Acesso em: 03 maio 2024.

MEB. Cartilha “Viver é Lutar”: 2º livro de leitura para adultos. Rio de Janeiro. (1963). Fundo MEB. Acervo CEDIC. Mostra Virtual – Memória da Educação: Movimento de Educação de Base e suas Escolas Radiofônicas. Disponível em: http://www4.pucsp.br/cedic/meb/nas-salas-de-aula/arquivos-pdf/2-2-cartilha-viver-lutar.pdf. Acesso em: 5 maio 2024.

MEB. Cartilha Mutirão: 2º livro de leitura. Rio de Janeiro. (1965). Disponível em: http://www4.pucsp.br/cedic/meb/nas-salas-de-aula/arquivos-pdf/2-2-cartilha-viver-lutar.pdf. Acesso em: 5 maio 2024.

POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos. Rio de Janeiro. v. 5, n. 10, 1992. p. 200-212.

SILVA, Emanuel Freitas da. Os direitos humanos no “bolsonarismo”: “descriminalização de bandidos” e “punição de policiais”. Conhecer: debate entre o público e o privado, v. 9, n. 22, p. 133–153, 2019.

VENTURA, Jaqueline Pereira. Educação de Jovens e Adultos trabalhadores no Brasil: revendo alguns marcos históricos. 2001. Disponível em: http://ppgo.sites.uff.br/wp-content/uploads/sites/296/2017/12/educacao-jovens-adultos-trabalhadores-revendo-marcos.pdf. Acesso: 09 maio 2024.

Downloads

Publicado

2024-11-05

Como Citar

DA SILVA, E. D.; FERREIRA GUEDES, K. C. .; BEZERRA DE ANDRADE, F. C. . O MEB E A DITADURA MILITAR: : LIÇÕES (DES)CONTÍNUAS. Revista Temas em Educação, [S. l.], v. 33, n. 1, p. e-rte331202462, 2024. DOI: 10.22478/ufpb.2359-7003.2024v33n1.70589. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/rteo/article/view/70589. Acesso em: 18 nov. 2024.

Edição

Seção

DOSSIÊ - O GOLPE DE 1964, 60 ANOS DEPOIS: NARRATIVAS, RESISTÊNCIA E REDEMOCRATIZ