Os "SEM SENTIMENTOS"
sujeitos em marginalização e a linguagem
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1983-1579.2020v13n3.52994Palavras-chave:
Socioeducativo, Necropolítica, Juventude, Subjetividade, PsicanáliseResumo
Identificando como um dos efeitos da marginalização na subjetividade, o roubo da palavra íntima, a asfixia da fala singular que fuja do estreito repertório de discursos que já os precedem, há cerca de dois anos desenvolvemos oficinas em contextos variados com pessoas que, ou tenham passado pelo sistema penal, pelo socioeducativo, ou estejam efetivamente neles. Por percebermos que, de algum modo, se instaura uma grave dificuldade em se falar de sentimentos, ou seja, em se falar daquilo que nos compõe mas que não tem bem um contorno nítido, que não se mostra evidente nem para nós mesmos e justamente por isso é tão o que somos, fizemos dessa percepção o motivo para uma série de atividades com inspiração psicanalítica com jovens internos nas unidades CRIAAD e CAI – Baixada do Degase/RJ. Neste artigo, então, a expressão, comum de ser anunciada como uma característica “positiva” do criminalizado, o “sem sentimento”, encontrada escrita à lápis, inclusive, sobre uma das mesas da sala onde trabalhamos com eles, dispara uma costura entre alguns relatos de nossas oficinas e um repertório teórico dos estudos da subjetividade, notadamente, retirando consequências do conceito de necropolítica em Mbembe, no sentido de investigar como as subjetividades marcadas pela identificação como “matável” se divorcia falsamente de seus sentimentos, se fixando numa suposta frieza monstruosa que, em vida, facilita o convívio com sua morte enquanto que iminente.
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