CURRÍCULO, TÁTICAS, RESISTÊNCIAS
maneiras de fazer de estudantes egressos negros em tempos de regulação autoritária
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1983-1579.2020v13n3.53947Palavras-chave:
Narrativas, Racismo, TáticasResumo
O presente artigo propõe a pesquisa de táticas (CERTEAU, 1994) utilizadas por estudantes egressos negros da periferia do Rio de Janeiro que abarcam a resistência diária às regulações autoritárias decorrentes do racismo estrutural que marca a sociedade brasileira (ALMEIDA, 2019). Tais estudantes elencam suas trajetórias para concluir a educação básica, o acesso ao ensino superior, a mobilidade social oportunizada pela formação, apesar do contexto autoritário a que são submetidos. Neste texto, a reflexão sobre o currículo e as táticas se faz a partir do processo de escolarização de três praticantespensantes, que foram aprovados no exame vestibular da Universidade Federal Fluminense (UFF) para o ano de 2004, destacando as maneiras de fazer desses sujeitos que se inscrevem como resistências aos entraves vivenciados. O repertório de narrativas oportunizado nos conduziu à identificação de três categorias de táticas: (1) a escolha acadêmica e profissional como tática de empregabilidade, (2) o acesso a ferramentas e a tessitura de redes de apoio como tática de superação das desvantagens sociais e econômicas produzidas pelo racismo estrutural e (3) a desnaturalização de práticas racistas e a identificação do racismo e do preconceito como tática de referencialidade para as lutas atuais contra processos regulatórios. Adotamos como caminho metodológico a pesquisa narrativa. Como conclusões, destacamos que o compartilhamento de narrativas de enfrentamento do racismo são potentes instrumentos para as reflexões acerca das manifestações singulares do racismo na vida dos interlocutores, inclusive, das nossas próprias vidas enquanto autoras deste artigo. Essas reflexões amplificam modos de resistência para a luta antirracista.
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