Descolonização africana e a crítica do dualismo antropológico europeu: quando o outro da modernidade reflexiviza, corrige e educa a modernidade
DOI:
https://doi.org/10.18012/arf.v8i2.57424Palavras-chave:
Modernidade Europeia; Outro da Modernidade; Dualismo Antropológico; Eurocentrismo-Colonialismo-Racismo; Crítica da Modernidade.Resumo
O texto discute a crítica realizada pela descolonização africana relativamente ao dualismo antropológico europeu que serve como substrato para a constituição do discurso filosófico-sociológico-antropológico da modernidade-modernização ocidental e que implica (a) na cisão, na separação, na autonomia, na independência, da endogenia, na autorreferencialidade, na autossubsistência, na autossuficiência e na sobreposição da Europa em relação a todos os outros da Europa, correlatamente (b) à legitimação da Europa, por meio da racionalização, como presente efetivo, atualidade substantiva e abertura e direcionamento ao futuro, a única instância paradigmático-normativa capaz de fundar, legitimar e realizar o universalismo não-etnocêntrico e não-egocêntrico e com condições de gerar crítica, reflexividade, mobilidade e emancipação, ao contrário de todos os outros da modernidade que, enquanto sopa indiferenciada e generalização absoluta demarcadas por uma condição mítica, são concebidos como perspectiva pré-moderna e antimoderna e, nesse sentido, como passado antropológico, incapazes de gerar crítica, reflexividade, mobilidade e transformação ao longo do tempo, sendo demarcados por dogmatismo-fundamentalismo e contextualismo-particularismo. A descolonização africana, por meio da tríade eurocentrismo-colonialismo-racismo e/como fascismo, desconstruirá o dualismo antropológico, a cegueira histórico-sociológica e a romantização normativo-filosófica do racionalismo ocidental e, a partir da voz-práxis dos sujeitos menorizados-colonizados construídos pela Europa em termos do racismo estrutural, apresentará uma nova perspectiva de um universalismo não-etnocêntrico e não-egocêntrico que somente pode ser gerado e sustentado como descolonização, isto é, como superação do dualismo antropológico e do consequente maniqueísmo político-moral que, enquanto racismo estrutural, tem demarcado a relação assimétrica da Europa para com os povos não-europeus sob a forma de usurpação, instrumentalização, produção de minorias político-culturais e, como coroamento disso, de realização de etnocídios-genocídios contra negros e indígenas.
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