Discente ativo e medicina engajada:

produções biopolíticas de um dispositivo na formação médica

Autores

  • Raimundo Rodrigues França Júnior Curso de Medicina da Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca
  • María Elena Ortiz Espinoza Universidad Politécnica Salesiana, Ecuador

DOI:

https://doi.org/10.22478/ufpb.2359-7003.2023v32n1.64937

Palavras-chave:

Dispositivo; Biopolítica; Medicina engajada.

Resumo

Este trabalho parte do pressuposto de que a dominância discursiva que permite a localização dos saberes e das práticas das Metodologias Ativas em um lugar privilegiado na enunciação da verdade sobre educação médica advém de uma economia política dos discursos. Fundamentado nas teorias pós-críticas da educação, argumenta que tal economia é sustentada no currículo de medicina de uma Instituição de Ensino Superior (IES) pública pelas estratégias do dispositivo (biopolítico) da medicina engajada, que tem nas Metodologias Ativas uma de suas principais linhas de força, isto é, uma de suas principais estratégias de operação. O objetivo é analisar o investimento discursivo desse dispositivo na normalização das condutas e forma mesma de ser médicos/as de discentes do curso de medicina da IES. São analisados fragmentos discursivos em circulação no currículo formal e nas sessões de grupos focais realizadas com discentes do referido curso, mediante emprego de elementos da análise do discurso de inspiração foucaultiana. Evidenciou-se que, a despeito de toda uma lógica acionada pelo dispositivo na produção do sujeito discente ativo/a/engajado/a, é possível localizar posição de sujeito de um/a discente passivo/a sendo desejada e ocupada no currículo de medicina da IES. Concluiu-se que os elementos discursivos do dispositivo da medicina engajada são acionados no currículo de medicina da IES para constituir posições de normalidade e diferença, em termos de sujeitos discentes ativos/as e passivos/as.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Raimundo Rodrigues França Júnior, Curso de Medicina da Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca

Raimundo Rodrigues de França Junior é professor do curso de graduação em medicina da Universidade Federal de Alagoas (UFAL/Campus de Arapiraca). É doutor em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia (PPGE/UFBA), com doutorado-sanduíche (Bolsa CAPES/PRINT) na Universidad Politécnica Salesiana, Ecuador. 

e-mail: raimundo.junior@arapiraca.ufal.br

 

María Elena Ortiz Espinoza, Universidad Politécnica Salesiana, Ecuador

María Elena Ortiz é professora sênior da Universidade Politécnica Salesiana. É doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É coordenadora do Grupo de Pesquisa em Políticas Curriculares e Práticas Educativas (GIPCYPE).

e-mail: mortize@ups.edu.ec

Referências

ANGELI, Olga A. e LOUREIRO, Sonia R. A Aprendizagem Baseada em Problemas e os recursos adaptativos de estudantes do curso médico. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 25, n. 2, p. 32-41. 2001.

BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo. In: LOURO, G. L. (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001, p. 153-72.

BRASIL, MEC, Conselho Nacional de Educação (CNE). Resolução n. 3, de 23 de junho de 2014. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2014.

COUTINHO, Karine Dias e SOMMER, Luis Henrique. Discurso sobre formação de professores e arte de governar. Currículo sem Fronteiras, v.11, n.1, pp.86-103, Jan/Jun 2011.

CRUZ, Poliana Oliveira da, et al. Percepção da Efetividade dos Métodos de Ensino Utilizados em um Curso de Medicina do Nordeste do Brasil. Rev. bras. educ. med. vol.43, n.2, pp.40-47, 2019.

DANZIATO, Leonardo; MARTINS, Ana Carolina B. L.; MATOS, Sabrina Serra. Psicanálise e biopolítica: o fascínio do discurso médico. Revista Subjetividades, Ed. Especial: 44-54, 2018.

FARIAS, Pablo A. M. et al. Aprendizagem ativa na Educação em Saúde: percurso histórico e aplicações. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 39, n. 1, p. 143-158. 2015.

FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: Dreyfus, Hubert e Rabinow, Paul (Org.). Michel Foucault, uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Jnaeiro: Forense, 1995, p. 231-250.

FOUCAULT, Michel. Estratégia Poder-Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

FOUCAULT, Michel. O nascimento da clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.

FOUCAULT, Michel. Seguridad, territorio y población. México: Fondo de

Cultura Económica, 2006.

FOUCAULT, Michel. A Governamentalidade: Curso do College de France, 1 de fevereiro de 1978. In: MACHADO, Roberto (org.). Microfísica do Poder. 23. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2007. P. 163-174.

FOUCAULT, Michel. Do governo dos vivos: curso no Collége de France (1979-1980).

São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2014.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 26 ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

GALLO, Sílvio. Biopolítica e subjetividade: resistência? Educar em Revista, Curitiba, Brasil, v. 33, n. 66, p. 77-94, out./dez. 2017.

GOMES, Andréia P.; REGO, Sergio. Transformação da Educação Médica: é possível formar um novo médico a partir de mudanças no método de ensino-aprendizagem? Rev. Bras. de Educ. Méd., v 35, n. 4, p. 557-566. 2011.

LEAL, R. E. G. Dispositivo de inovação no ensino superior: a produção do docentes innovatus e discipulus iacto. Dissertação (Mestrado) — Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.

LEAL, Rafaela Esteves Godinho; SALES, Shirlei Rezende. Dispositivo de Inovação: produção d/a estudante ativo/a no ensino superior. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 19, n. 60, p. 173-194, jan./mar. 2019.

MAKNAMARA, Marlécio. Currículo, música e gênero: o que ensina o forró eletrônico? 2011 (Tese de Doutorado) - UFMG/FaE, Belo Horizonte: 2011.

MAKNAMARA, Marlécio. PARAÍSO, Marlucy Alves. Pesquisas pós-críticas em educação: notas metodológicas para investigações com currículos de gosto duvidoso. Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 22, n. 40, p. 41-53, jul./dez. 2013.

MEIRELES, Maria Alexandra de Carvalho; FERNANDES, Cássia do Carmo Pires e SILVA, Lorena Souza e. Novas Diretrizes Curriculares Nacionais e a Formação Médica: Expectativas dos Discentes do Primeiro Ano do Curso de Medicina de uma Instituição de Ensino Superior. Rev. bras. educ. med. vol.43, n.2, 2019, pp.67-78.

MITRE, Sandra M. I. et al. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem na formação profissional em saúde: debates atuais. Ciências e Saúde Coletiva. v. 13, n. 2, p. 2133-2144. 2008.

MOTA, Fernanda Antônia Barbosa de. O processo formativo do sujeito: governamentalidade e modos de subjetivação como processo de singularização a partir do cuidado de si. Reflexão e Ação. Santa Cruz do Sul, v. 26, n. 2, p. 27-42, mai./ago. 2018.

NUNES, Cassia R. R.; NUNES, Amauri P. Aportes teóricos da Ação Comunicativa de Habermas para as Metodologias Ativas de Aprendizagem. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 29, n. 2, p. 179-184. 2005.

PARAÍSO, Marlucy Alves. Metodologias de pesquisa pós-crítica em educação e currículo: trajetórias, pressupostos, procedimentos e estratégias analíticas. In: PARAÍSO, Marlucy Alves.; MEYER, Dagmar Estermann (Orgs.). Metodologias de pesquisas pós-crítica em educação. 2 ed. Belo Horizonte: Mazza, 2014, p. 25-47;

PUTNAM, A. R. Problem-based teaching and learning in educational technology. Paper apresentado na 75 Conferencia Annual da Associaciation for Carrer and Technical Education, New Orleans, 13-16 dez. 2001. Disponível em: https://files.eric.ed.gov/fulltext/ED465039.pdf. Acesso em: 10 jul. 2020.

UFAL. Projeto Pedagógico do curso de Medicina. Arapiraca/Alagoas, 2017.

UFAL. Guia do Professor. Arapiraca/Alagoas, 2018.

VEIGA-NETO, Alfredo. LOPES, Maura Corcini. Inclusão e governamentalidade. Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 100 - Especial, p. 947-963, out. 2007.

Downloads

Publicado

2023-05-15

Como Citar

FRANÇA JUNIOR, R. R.; MARÍA ELENA ORTIZ ESPINOZA. Discente ativo e medicina engajada: : produções biopolíticas de um dispositivo na formação médica. Revista Temas em Educação, [S. l.], v. 32, n. 1, p. e-rte321202330, 2023. DOI: 10.22478/ufpb.2359-7003.2023v32n1.64937. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rteo/article/view/64937. Acesso em: 18 dez. 2024.