Um museu de cangaceiros, bacamarteiros e coiteiros: considerações sobre o espaço na narrativa cinematográfica de Bacurau
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1516-1536.2021v23n2.59053Palavras-chave:
Espaço, Cultura Popular, Resistência, Cinema Brasileiro, BacurauResumo
Este artigo tem o propósito de avaliar a categoria narrativa do espaço em Bacurau – filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles –, acolhendo contribuições do campo literário e dirigindo-nos à análise cinematográfica em algumas cenas e sequências. Buscaremos demonstrar como, na relação intertextual com o western, o discurso cinematográfico de Bacurau agencia um espaço, o “Museu Histórico de Bacurau”, destacado no ápice da narrativa, como elemento central na definição de estratégias para vencer o inimigo e como o eixo que articula a luta da comunidade contra o invasor estrangeiro - representante da atualidade globalizada – ao lastro identitário da cultura popular, em que comparecem os emblemas do cangaço, da tradição dos coiteiros e do folguedo dos bacamarteiros. Ainda observaremos como o tensionamento emergido nesse embate entre passado e presente levanta, de um lado, a resistência em defesa da tradição, do espaço, da propriedade; de outro, a dominação movida pelo pragmatismo frio de uma sociedade do extermínio, cruel, brutalista. Neste embate, o “Museu Histórico de Bacurau” é precisamente o eixo espacial que articula a resistência da luta física ao lastro identitário coletivo. O museu se erige, pois, como um símbolo em que a tradição e o passado – na ficção futurista do filme – são “atualizados” na luta, fonte de um manancial poderoso de identificação comunitária. O museu, espaço cultural (sociopolítico), reveste-se de implicações semânticas fundamentais que serão aqui apreciadas.
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