Palimpsesto surreal em Gritos Bárbaros

Autores

Palavras-chave:

Moacyr de Almeida, Castro Alves, surrealismo, poesia brasileira 1920, intertextualidade

Resumo

Neste artigo, busca-se evidenciar a existência de composição em palimpsesto no poema “Os subterrâneos”, de Moacyr de Almeida (1902-1925), com o poema “Navio negreiro: tragédia no mar”, de Castro Alves (1847-1871). Em ambos há o mesmo horror à exploração, o mesmo clamor por transformações sociais. O mesmo tom de denúncia, mas não somente. Uma série de imagens compõem analogias, palavras ressoam de um ao outro poema, revitalizando o romantismo hugoano por dentro do século XX. Poeta de imagens fortes, “monstruosas”, de clara inspiração romântica, Moacyr de Almeida, falecido aos 23 anos, apresenta traços do que à época, na Europa, começava a se delinear como movimento surrealista. Poeta altissonante, grandiloquente ao gosto das sessões de poesia declamada, trabalhando nos jornais desde os 18 anos, Moacyr de Almeida, na linhagem hugoana de seu admirado Castro Alves, vai se envolvendo com causas sociais e orientando sua poesia neste mesmo rumo. Muito publicado nos periódicos cariocas desde os 16 anos, o único livro que organizou com seus poemas, Gritos Bárbaros, somente viria à luz após sua morte, por iniciativa de seus inúmeros amigos, sob os cuidados do irmão Pádua de Almeida, também jornalista e poeta (em setembro de 1925). Apesar de excluído dos cânones, é sempre referido nas histórias da literatura brasileira, permaneceu no gosto popular e seu livro, acrescido cada vez mais de novos “outros poemas”, teria ainda duas outras publicações e uma antologia comentada (1948, 1960, 2009).

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Biografia do Autor

Mario Cesar de Queiroz, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Licenciatura em Letras pela UFF; Mestrado e Doutorado em Poética pela UFRJ; já lecionou na Faculdade de Educação UFF, na EPSJV-Fiocruz, na FAETEC-RJ, no IOC-Fiocruz, atualmente é prof. associado de literatura brasileira e LP na UFRRJ. 

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Publicado

06.12.2022

Edição

Seção

DOSSIÊ: OBSCURECIDOS, PRETERIDOS OU IGNORADOS NA LITERATURA BRASILEIRA MODERNA