A quebra de paradigmas em Dona Guidinha do Poço, de Manuel de Oliveira Paiva

Autores

  • Maria Cristina Batalha Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Palavras-chave:

Oliveira Paiva, Dona Guidinha do Poço, romance polifônico, quebra de paradigmas, romance moderno

Resumo

Embora esquecido da crítica e das antologias literárias, e somente publicado em livro em 1952, o romance póstumo do escritor cearense Manuel de Oliveira Paiva (1861-1892), Dona Guidinha do Poço (1891), revela-se de uma modernidade surpreendente por quebrar diversos parâmetros narrativos: construção de personagens, unidade de ação, ritmo narrativo, tratamento do tempo e mistura de vozes que relativizam a narrativa e impedem uma interpretação unívoca do texto. Esses procedimentos indicam as fissuras de modelos canônicos finisseculares e anunciam o romance moderno. Se alguns componentes textuais deixam supor tratar-se de uma crônica do sertão nordestino ou o relato de um acontecimento “real” ocorrido alguns anos antes e conhecido de todos, outras estratégias narrativas desautorizam tal interpretação e lançam dúvidas no leitor quanto ao modelo de romance “realista” ao qual está familiarizado. Portanto, essa linha de leitura não poderá ser levada com segurança, pois a voz irônica de um narrador onisciente, que se desdobra em muitas outras vozes, abre brechas no modelo canônico do realismo e nos afasta da suposta “fatia de realidade” que carrega a ilusão de que o que lemos é “verdade”. As múltiplas rupturas que o texto expõe parecem nos alertar de que aquilo que estamos lendo é apenas “literatura”, ou seja, é a “verdade” da ficção. A proposta do presente artigo é, então, a de examinar as diferentes estratégias de construção textual que nos permitem perceber as recorrentes quebras de paradigmas em Dona Guidinha do Poço, romance “esquecido” e que, no entanto, deixa-nos ver o avesso do tecido textual que muitos autores buscaram estrategicamente camuflar.

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Referências

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Publicado

06.12.2022

Edição

Seção

DOSSIÊ: OBSCURECIDOS, PRETERIDOS OU IGNORADOS NA LITERATURA BRASILEIRA MODERNA